Porque desistir não é verbo de quem busca, de quem procura, de quem anseia algo mais… por vezes nem sabemos muito bem o que andamos a procurar, se paz, se saúde, se alegria, se harmonia ou amor. Algo dentro de nós faz-nos buscar e buscar e buscar infinitamente o quê não sabemos muito bem, mas que nos faz “falta” ou que pensamos que nos deixaria mais “completos”. Mas e se de repente, fizéssemos o contrário do buscar, do procurar?!
Há dias ando a pensar nesta questão do buscar e do encontrar, do quanto busquei e me senti frustrada comigo mesma e com outras pessoas, das vezes todas que pensava é desta… para não daquela também. Então olhando para trás percebi uma coisa bem simples, não deixei de procurar ou de buscar ou de querer, mas a grande mudança é que passei a aceitar mais o que acontecia ou deixava de acontecer, comecei a olhar mais para o que de bom a vida, Deus, Universo o nome que se queira dar, andavam a dar-me diariamente através de pessoas conhecidas e desconhecidas, através do sorriso de um estranho qualquer na rua que me deixava passar a sua frente quando eu ia cheia de pressa buscar as filhas no colégio e já atrasada. Coisas simples, coisas “pequenas”, comecei a perceber na simplicidade de um abraço um mundo todo que me era dado, no obrigada de alguém que vinha ter comigo para algo e saía com outro…risos…
Quando começamos a perceber que de fato que não haverá fogos de artifícios, que não haverá um raio que cai do céu nas nossas cabeças, mas vão existir muitos desafios internos e externos que vão nos permitir aprender que deixar ir o controle é libertador, que confiar em Deus é em última instância o que vai nos conduzir ao que de fato somos ou temos que ser. E quando falo Deus, confiar e conduzir não associo a culto algum, a igreja ou rito algum, mas só a nossa ligação com Deus Pai/Mãe.
E desta relação com este Ser tenho para dizer que andei muito tempo bastante zangada com Ele, com o que achava que Ele andava a fazer na minha vida, nas provas que tinha que passar… andei mesmo zangada com ele a ponto de achar que se não por Ele, mas por mim, teria que dizer-Lhe algumas “verdades” do que andava a sentir…risos… não falo palavrão, não gosto e também fui educada a pensar que se é para blasfemar ou chingar alguém que seja com inteligência…risos… e viva o dicionário que me trouxe palavras como energúmeno…risos…mas o que interessa é que ao tratar Ele por Tu, como se diz em Portugal, a minha relação com Ele melhorou muito porque percebi que Ele tinha mais o que fazer do que andar a me chatear…risos… mas senti-me ouvida e com isto avancei…risos… e o que é avançar?!?
Avançar numa relação assim tão “doida” foi aceitar a minha responsabilidade sobre tudo o que vivo, aceitar que somente eu poderia mudar este padrão de respostas que me fazia mal, que tinha que ser mais consciente das minhas escolhas e atitudes, que tinha que me amar mais, muito mais ao bem da verdade, porque fui ensinada a dar, a ser prestativa, a ser boazinha… a dar a outra face. Bem, esta da outra face então é de dizer o que é, isto meu Senhor. Da onde já se viu nos ensinar a sermos masoquistas, sádicos… o quê é isto?!?!
Dar a outra face no meu muito particular ver…risos… é olhar para o outro e perceber que ele não está nos machucando, ele está se machucando, é perceber que posso parar com aquilo simplesmente aceitando que não é comigo o problema daquela pessoa, estou sendo só um espelho para esta experiência e se ela não encontra eco em mim, então dar a outra face é deixar aquele ser ir a vida dele e seguir com a minha vida sem esta presença. Fácil?! Difícil?!?
Com algumas pessoas o deixar ir é mais fácil do que com outras, mas o deixar ir aqui também tem haver com a capacidade de me perdoar, afinal eu me coloquei ali, com o perdoar o outro que se colocou ali para me ajudar a ser melhor. Como é que as sementes germinam se não quebrando com as “cascas”?!?
Então desistir não é um verbo que se conjugue, porque descobri que eu sou válida, sou muito válida…tão válida que nem sempre percebo como…risos… e não tem haver com ego, tem haver com algo mais profundo, existimos para nós mesmos, mas existimos muito para os outros, para todos aqueles que encontramos ou fazem parte das nossas vidas. Viemos aqui para sermos melhores, mas também para fazermos a diferença nas vidas de outras pessoas e por exemplos de vida, não por palavras vãs, mas por aquilo que de fato vivemos e fazemos.
Eu escrevo e parece que tudo foi assim de um momento para o outro… doce e ledo engano…risos… foram anos e anos, e ainda hoje me pego aprendendo, me pego buscando…risos… não com a mesma ânsia, mas com a serenidade de quem entendeu que tem dias e dias, que há momentos onde tudo é do melhor e outros que parecem terem saído daqueles filmes noir…risos… pesado, profundo e duro… e eu que adoro uma leveza vou lá no fundo para saber qual é a sensação. Mas tudo bem… faz parte, faz parte da vida a alegria e a dor, o dar e o receber, o fazer e o não fazer… então o que torna o caminho mais leve?!?
Fé e confiança! Não há como seguir para onde quer que seja sem estes dois atributos que são maiores do que nós quando os experimentamos, mas isto depois de abrirmos mão do medo e dos conceitos de como a fé e a confiança devem ser. Sempre digo, há um momento na vida de todos que é Deus Pai/Mãe e você, ninguém mais e nada mais. Pode ser por um acontecimento de dor, pode ser num acontecimento de plenitude… mas é um momento divisor de águas porque se chegamos ali é porque fizemos um longo caminho e já não há mais desvios para o encontro.
Acredito num Deus Pai/Mãe fantástico, mas se quer saber, reclamo com Ele sim porque alguém trata mal as nossas meninas, porque tive que enfrentar o medo de ficar “sozinha” com elas quando tenho um marido fantástico e um pai maravilhoso durante quase dois anos… sim, porque gente ninguém merece isto…risos… mas eu mereci, as meninas e o maridão também… o que aprendemos neste tempo: que família é tudo de bom! E que sim podemos ultrapassar muitas coisas, podemos querer muitas coisas, mas o que de fato importa é estarmos juntos. Acham que foi assim fácil como escrevo…risos… houveram tantos altos e baixos que eu só pensava, ok Deus Pai/Mãe você sabe bem que não gosto nada disto…risos… sou balança adoro estar com os que amo, então quer fazer o favor de agilizar… que nada… Ele ainda está na brincadeira comigo… mas depois deste tempo todo…risos… aprendi algo superimportante: viver cada momento intensamente e deixar de bobagens… alimentar o que importa na vida. E aceitar que há o tempo certo para tudo e para todos.
Isto tudo para dizer algo simples, a vida não é um mar de rosas para ninguém e tudo bem, podem haver dias melhores e outros piores, mas estamos vivos, estamos aqui e podemos fazer diferente e fazer a diferença. Então ao invés de querer se amar, aceita quem é, ao invés de querer ser forte, aceita a sua fragilidade, aceitar é uma palavra mestre forte e que lhe cabe, a outra é a gratidão.
A gratidão é um sentimento que abrange tudo e todos, é um sentimento de quem percebe ou sente que está tudo bem como está, que Deus Pai/Mãe não dorme em serviço, que somos maiores do que este corpo e esta vida, somos filhos Dele então somos deuses em ação… e se lermos um pouquinho só de mitologia…risos…vamos perceber que somos deuses aprendizes…risos… e andamos a balda em muitas lições, mas tudo bem…risos… porque há tempo para tudo, mas se começar agora e aceitar quem é e onde está pode gerar uma transformação no amar-se e ser a luz que é de forma mais suave e firme.
Desistir não é verbo que se conjugue, é verbo que se conhece porque também está na raiz do persistir e do insistir… e do existi.
Existem duas histórias que contadas pela antroposofia e pela teosofia que adoro, uma é sobre a escolha de Lucifer e outra sobre a vida da Kuan Yn, porque ambos tiveram o poder de escolher e o que cada um fez com a sua escolha gerou a reação que gerou. Lei da ação e da reação, todos somos regidos pelas leis universais e não dá para fugir delas.
Viver é um desafio constante de aprendizado, de amar, de dar e de receber… permita-se!
Porque acredito nas pessoas e na capacidade delas de serem quem são! Obrigada moça que me inspirou a escrever.
E que possamos ser! E possamos deixar os demais serem também!
Jaqueline Reyes
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