O meu caminho no Yoga

O meu caminho no Yoga

Há cerca de 10 anos atrás, em busca do equilíbrio entre o corpo e a mente, comecei a praticar yoga e desde então tem sido uma descoberta diária de novas formas de estar, de pensar e de como encarar a vida com amor, paz e tranquilidade. Terminei o curso de Professora de Yoga em Portugal em 2013, mas sempre no pensamento que queria ir à Índia, à origem, aprofundar os conhecimentos. Cada vez mais tenho a plena noção que tudo é possível, basta querer, criar o momento e dar espaço para que ele aconteça. E esse momento chegou… em Fevereiro de 2016, há um ano atrás, estava na Índia para concretizar uns dos meus sonhos.

Foi um misto de emoções, partir por um mês, em busca de conhecimento, uma nova realidade para mim, cultura diferente, longe de tudo e de todos, mas cada vez mais próxima de mim… Houve alturas em que deu medo, sim deu medo de viajar sozinha, sem ter a certeza do que me esperava, se me iria adaptar um mês num país totalmente diferente e tão longe do conhecido; houve alturas que deu saudade, saudade do que ficou, da família, dos amigos… mas impressionantemente cada vez me sentia mais próxima de mim, cada vez mais ia ao encontro do desconhecido dentro e fora de mim. Foi sem dúvida uma experiência única, que aconselho a qualquer pessoa que sinta e tenha vontade de o fazer, que o faça. 🙂

Andei alguns meses a recolher informação para escolher o sítio onde iria tirar o curso na Índia e escolhi Yoga Vidya Gurukul, em Trimbak, perto da cidade de Nashik, a cerca de 200km de Bombaim. É um ashram, num local muito tranquilo, no meio do campo. Um ashram é um local que nos permite compreender a nós próprios, olhar para dentro de nós e aprendermos a viver uma vida equilibrada em qualquer situação. É um local muito simples, que nos dá um total entendimento como é possível viver em paz e harmonia sem luxos. Por vezes viver num ashram não é assim tão fácil, porque olhar para dentro de nós tem o que se lhe diga, mas ao fim de um mês olhamos para trás e vemos como tal experiência nos mudou.

O curso é bastante intenso, sendo que durante 1 mês, tivemos 3 dias de descanso. Esses dias foram aproveitados para explorar a cidade de Nashik, o templo de Shiva em Trimbak ou a montanha de Hanuman, que espelham em pleno o dia a dia dos indianos, ao nível da religião, cultura e forma de estar na vida.

 
  

Durante o curso, o dia começava bem cedo. Acordávamos às 5h30 da manhã, tomávamos um chá de ervas e às 6h da manhã começávamos com a entoação de mantras, seguindo-se a prática de asanas e de pranayama até às 8h. E o pequeno almoço só era servido às 9h da manhã, depois da prática de Karma Yoga, o trabalho voluntário em prol do bem estar e da harmonia do ashram. O karma yoga podia consistir em diversas tarefas, desde a limpeza das casas de banho dos locais comuns, limpeza da cozinha, varrer o pátio, regar o jardim, entre outras actividades.

Quando se ouvia o sino era sinal de pequeno almoço, almoço ou jantar. A comida era vegetariana e era preparada com todo o amor pelas senhoras que trabalhavam na cozinha e que por vezes eram ajudadas pelos alunos e voluntários que em comunhão partilhavam as tarefas.
A comida era deliciosa e fiquei mesmo a perceber que o facto de comermos as refeições preparadas na hora, alimentos vivos, que faz toda a diferença na nossa energia. Comíamos 3 vezes ao dia, passávamos 3 horas de manhã em jejum até ao pequeno almoço e não tínhamos fome. É certo que quando vim da Índia vinha com uns kilitos a menos, mas sem dar por isso.

 

No final da refeição cada um lavava e enxugava o seu prato…e tudo era simples. 🙂

  

Depois do pequeno almoço e da parte da tarde tínhamos aulas teóricas sobre as várias componentes de hatha yoga, ayurveda, anatomia e normalmente a seguir ao almoço havia sempre uma prática de yoga nidra, uma prática de meditação do Yoga, um excelente meio de conexão, recuperação, restabelecimento físico e energético.

Depois da aula teórica da tarde tínhamos outra prática de asanas e pranayama, seguia-se meditação/mantras, e às 19h30 era servido o jantar. Quase todos os dias depois do jantar a pequena loja do ahram, que vendia de tudo um pouco, abria por meia hora. E depois disso ainda havia algumas sessões de músicas de yoga (bhajans), discussões sobre alguns temas e o dia terminava pelas 22h. Eram dias muito intensos e preenchidos, mas que nos permitiam ir ao nosso encontro, em que nos descobríamos a cada momento.

Passeando pelo ashram, deixo-vos algumas fotos que espelham a forma simples e tranquila com que se vive no ashram onde sou verdadeiramente grata por ter passado 1 mês da minha Vida.

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O quarto era dividido com mais 3 pessoas e desde o primeiro dia se criou uma empatia muito grande, foi um mês de grande partilha e de muita cumplicidade.

  

O quarto era muito simples e para tomarmos banho de água quente tínhamos de encher um balde de água e tomar banho com uma caneca, para não falar do famoso chuveirinho na sanita, sim porque na Índia é raro usar-se papel higiénico, daí ser das coisas mais caras para comprar na loja do ashram.

No ashram são organizadas muitas acções de voluntariado junto da comunidade local, sendo que uma das que participei foi com as crianças da escola bem perto do ashram. O objectivo era sensibilizá-las bem como às suas famílias da importância de não deitarem lixo para o chão (sem dúvida um dos grandes problemas na Índia… lixo por todo o lado) e por isso, juntamente com elas, apanhámos o lixo da escola e das ruas até chegarmos à sua aldeia.

Uma das práticas que é muito questionada no início do curso é o facto de termos de fazer 3 dias de silêncio à nossa escolha e 2 dias de silêncio ao mesmo tempo que o restante grupo do curso. Estar em silêncio um dia inteiro, ao início, não é tarefa fácil, a nossa mente é muito ruidosa e está em constante funcionamento. Mas é maravilhoso percebermos como esta prática nos leva de facto ao encontro de nós próprios, de tomarmos consciência de como está o nosso interior, quando nos recolhemos. Aconselho vivamente a quem nunca experimentou, que tente fazê-lo durante um dia e sinta verdadeiramente o quão importante é esse recolhimento.

Agradeço aos professores fantásticos que me permitiram crescer como professora de Yoga, transmitindo os seus conhecimentos e a sua forma de estar e viver a vida. Deram-me ferramentas para ensinar e partilhar mais e melhor esta prática milenar.

Durante o curso fizemos testes escritos, um trabalho sobre um tema à nossa escolha, testes práticos individuais e fomos avaliados a dar uma aula de yoga. O grupo final no qual fiquei foi fantástico e houve um espírito de entreajuda e união enorme.

 

Não é fácil colocar em palavras um mês de vivências, aprendizagens, partilhas, superações, conquistas, mas só me resta agradecer a toda a gente que se cruzou no meu caminho neste mês e que tornou esta experiência, numa experiência única, que voltaria a repetir no mesmo sítio, sem qualquer dúvida.

Grata de Coração  Om Shanti

 

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