Era Carnaval e o João estava empolgadíssimo. Ia assustar toda a gente com a sua máscara! Tinha tudo preparado: as roupas, os acessórios e as pinturas.
Quando acabou de se arranjar — completamente sozinho! — olhou-se ao espelho e sorriu: estava um vampiro a valer!
Correu até à sala com um grande salto e agarrou o pescoço da mãe, que, de susto, até deu um grito pequenino:
— Que susto, João! Parecias mesmo um vampiro a valer!
Foi até à varanda, devagarinho. Espreitou e viu o pai, muito concentrado, a ler um livro. Agarrou-se ao seu pescoço com um grito. Assustado, o pai até deixou cair os óculos!
— Ai, João! Que assustador que estás!
O João sorriu, orgulhoso. Tinha conseguido: parecia mesmo um vampiro a valer! Foi a correr até ao quarto da irmã. A Laura estava a desenhar, sossegada. Mais tarde ia mascarar-se de centopeia. Tinha um fato mesmo comprido, que estava esticado em cima da cama, com os seus muitos pézinhos a espreitar. O João ia testar novamente o seu disfarce. Entrou de rompante no quarto da irmã, com um grande grito ameaçador.
A irmã, com o susto que apanhou, até ficou com soluços!
À tarde saíram todos para a grande praça, cheia de disfarces. A mãe estava com o fato de palhaço que vestia em todos os carnavais e toda a gente a reconhecia. O pai muito simples, mas cheio de graça: com um fato preto e uma cartola gigantesca, de onde saía um coelho, que tinha ido buscar emprestado ao quarto dos brinquedos. Estava um ilusionista perfeito! A Laura era uma centopeia muito engraçada. Quando olhava para o irmão os soluços de medo voltavam e o seu corpinho de centopeia agitava-se todo.
João viu os amigos e foi a correr ter com eles. Mas todos fugiram de susto. Ninguém o estava a reconhecer. O João correu atrás deles, mas eles gritavam de susto e nem o ouviam. Parecia que se tinha transformado noutra pessoa! Estava a começar a arrepender-se do seu disfarce tão perfeito.
Pensativo, coçou a cabeça com o seu jeito de sempre, e houve um colega que gritou:
— Olhem, é o João!
Todos se aproximaram e riram muito: que vampiro a valer!
Agora vamos lá! Pensar com calma faz bem à alma:
— O João estava um vampiro a valer. Quando nos disfarçamos deixamos de ser nós mesmos?
— Os amigos do João demoraram a reconhecê-lo. Como é que conhecemos uma pessoa quando ela está mascarada?
— Porque é que nos assustamos com o que não conhecemos?
— Porque é que nos divertimos tanto a mascararmo-nos?
— Podemos mascarar-nos todos os dias? Porquê?
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