Impermanência

Impermanência

Todos nós, de uma forma ou de outra, somos todos seres adaptáveis, atravessamos diferentes situações, aprendendo, reformulando-nos e reavaliando-nos. Por vezes somos apanhados de surpresa, sem nos apercebermos, é-nos retirado o chão, chão esse que está alicerçado sobre as nossas próprias estruturas, que eram sóbrias, estáveis e confortáveis para o nosso ser.

No percurso da vida, no amor, na amizade, na paixão, em tudo aquilo por que passamos, nada é estático, nada é para sempre, a isto chama-se impermanência. Temos que estar preparados para o mais forte dos terramotos e para isso, tem que haver uma estrutura bastante forte mas também flexível.

Um amor incondicional, aquele que pensávamos que nos preenchia completamente, a nossa alma gémea, aquele que fazia tudo ter ainda muito mais sentido, que nos proporcionava a partilha e a dádiva para com outro ser, que nos fazia vibrar numa esfera diferente, de repente acaba e deixa-nos completamente despojados, vazios, sem nexo, à deriva, morre mesmo uma parte de nós. Isto acontece porque as bases, os alicerces e os princípios não são os mesmos, foram cimentados de forma completamente diferente, o que fazia para nós todo o sentido, conhecer a família, partilhar espaços privados, vivenciar situações em conjunto, para o outro não era nada, era apenas diversão, passar o tempo, gozo, brincadeira e apenas isso, nada mais. Temos que ser capazes de perceber isso no outro, mesmo que todos os indicadores apontem para aquilo que nós estamos a visualizar e a pensar, para depois não sofrermos.

Uma amizade de uma vida, pode da mesma forma, caír por terra, exatamente pela mesma razão. O que leva uma pessoa a traír-nos é única e exclusivamente por satisfação das próprias necessidades, por egoísmo e isso arrása-nos. Ficamos arrasados porque partilhávamos acontecimentos pessoais, os mesmos espaços familiares, momentos íntimos e também pormenores que não contávamos levianamente a qualquer pessoa, sentimo-nos devassados, virados do avesso, totalmente expostos e usados por alguém em quem confiávamos a nossa vida e a dos nossos como a nós próprios, e pensávamos que era recíproco. Deixamos de confiar nos outros e procuramos o isolamento. Mais uma vez temos que perceber, que a conduta e as atitudes são diferentes, assim como os pilares basilares que as sustentam. Temos que abarcar o todo, temos que ter compaixão, e deixar fluir o percurso natural da vida o que por vezes não é nada fácil, pois encontramo-nos amargurados, revoltados, com raiva e ódio da pessoa que nos tentou prejudicar, mas no fundo, se pensarmos bem, a pessoa não nos prejudicou, ela mostrou-nos aquilo com que podemos contar, aquilo que se passa à nossa volta, mostrou-nos que temos que estar atentos e conscientes. A pessoa apenas se prejudicou a ela própria, porque fez mal a outro ser, deliberadamente, aproveitou-se da sua inocência, amor, carinho e amizade para conseguir o que pretendia ou o que a satisfazia, aquilo que não tem perdão é o que a pessoa fez a si própria e aos seus, aquilo que lhes está a transmitir e a ensinar. Nós sim, temos que ter a faculdade de desculpar o que a pessoa nos fez, nós conseguimos entender, conseguimos perceber todo o contexto que a levou a tomar essa atitude, porque temos grandeza suficiente para abarcar a totalidade, porque somos unos com o Universo.

Dedicado com muito amor a todos os seres sensíveis deste planeta.

Sofia Melo

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