Era uma vez um caracol que vivia feliz na cidade dos caracóis. Havia muitos caracóis como ele. Caracoletas, caracolitos e uns caracolinhos pequeninos que não paravam de brincar durante todo o dia.
O caracol Gilberto já era velho e tinha um sonho: Ver o Mar!
Tinha ouvido dizer que o Mar é tão grande que não tem fundo nem se vê o outro lado. Também ouviu dizer que a água é salgada e navegam barcos grandes que transportam pessoas e até automóveis!
Uma tarde, abrigou- se a descansar debaixo de uma folha de couve bem fresquinha. Adormeceu e sonhou que o Mar afinal era ali mesmo ao lado, só precisava de andar um bocado. Pensou que depressa lá chegaria.
Quando acordou, espreguiçou-se e olhou para trás pensando se a ideia seria boa. Mas este caracol não era “bicho” de se arrepender das ideias que tinha!
Pôs se a caminho. Encontrou um outro caracol que tinha ido comer umas folhinhas tenrinhas no quintal ali ao lado:
– Olha lá, tu aí! Já alguma vez viste o Mar? Fica muito longe daqui?
O outro caracol não sabia. Nunca tinha ouvido falar. O que é que isso lhe interessava? O Gilberto apercebeu-se que só estava a perder tempo com aquele caracol.
O Gilberto continuou o seu caminho. Andou, andou, andou, até que encontrou uma poça no meio do caminho – tinha chovido na noite anterior. Quem por ali andava, era um melro de bico amarelo a cantar muito feliz. Fez uma pausa no cantorio e decidiu ir tomar uma banhoca fresca naquela poça. O caracol ficou todo contente e perguntou:
– Olha lá, tu aí. O Mar é aqui?
O melro olhou para ele, deu uma boa gargalhada e respondeu:
– Não! Isto é só uma pequenina poça, feita pela chuva. O Mar é muito maior do que isto.
– Mas isto também é grande. Não vejo o fundo, nem o outro lado.
– Sim, é verdade. Mas tu és pequenino, esta poça parece-te muito grande! Se queres lá chegar tens que andar muitos dias. E tu andas muito devagar. És apenas um pequeno caracol.
– Mas eu quero ver o Mar – resmungou. – Disseram-me que tem ondas muito grandes.
Sem perder o ânimo, encheu-se de coragem e andou mais uns metros – o que para ele era uma tarefa gigantesca!
Durante a noite, regalou-se com mais uns rebentos tenrinhos que encontrou. Mas mesmo muito cansado, no dia a seguir fez- se ao caminho. Como o Mar era longe!
Mais uma vez, encontrou uma outra poça, onde uma rã dormia à sombra de uns arbustos.
E mais uma vez, perguntou se era ali o Mar. A rã olhou-o admirada.
– O Mar?? Aqui? Isto é apenas um riacho onde há rãs (como eu), sardaniscas, mas também outros animais, bem maiores que tu. Por isso, põe- te a caminho. Se te “ topam”, comem-te!
O Gilberto teve medo. Mas pensando bem, meteu-se a caminho mais uma vez. Ainda não era ali o Mar. Mas ele tinha que chegar lá.
Quanto tempo andou, nunca chegou a saber. Mas numa manhã fresca, e com o sol a nascer, viu as radiosas cores laranja espelhadas numa imensidão de água. Ondas enormes que rebentavam nas rochas e o faziam estremecer. “Seria ali o Mar?” perguntava ele. Só podia ser! Tão bonito! Areia a perder de vista e água, muita água.
Cansado da viagem, mais de mil vezes parou no caminho a fazer sempre a mesma pergunta: “É aqui o mar?”
E, mais uma vez, perguntou a um caranguejo que passava num passo lento, mal disposto como sempre.
– É aqui o Mar?
– É o Mar, sim. Não vês o tamanho? Tão grande? Só podia ser o Mar!
O Gilberto tinha chegado. Era ali o Mar! Agora estava feliz. Finalmente tinha visto o Mar na sua imensidão, onde havia barcos que transportavam automóveis e até pessoas.
Ficou a pensar que afinal, com persistência, conseguiu o objetivo de tantos anos a pensar no mesmo. Tinha que ver o Mar! E o Mar ali tão perto. Finalmente!
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