Chovia que se fartava.
Como faço sempre, coloquei um balde debaixo do telheiro, no intervalo de uma telha partida. Um fiozinho de água escorre e enche o balde. Despejo, quase sempre, num vaso de flores que fica ali perto.
O balde encheu. Peguei nele e levei-o para o vaso das plantas. Não vi que uma pequena gota ficou presa numa pétala. A pequena gota viu-se sozinha, sem as outras gotas, que juntas encheram o balde, e desatou a chorar. A pétala da flor ouviu e perguntou:
– Quem está aí em cima a chorar?
– Sou eu. Uma gota de água que ficou aqui sozinha.
Como a flor era muito bonita, cheguei perto e cortei-a, levando-a para casa. Coloquei numa jarra. Aí, a gotinha de água ficou admirada com tanta coisa que não conhecia. Tinha caído no telhado, depois no balde, ficou presa na pétala e agora numa jarra em cima da mesa.
Pensou: “Será que vou ficar aqui para sempre?” Claro que não. Quando as flores murcharam, havendo outras flores bonitas, as velhas foram para o lixo e com elas a pequena gota de água que ainda não morrera.
Novamente uma boa chuvada.
A gota desprendeu-se da flor já murcha e viu-se num regato que corria ao fundo do quintal. Aos trambolhões, andou, escorregou, saltou e mais uma vez ficou presa nuns arbustos. Passou uma rã e, sem saber, levou-a nas costas. A gotinha agarrou-se muito bem e lá foi com ela. Pararam num ribeiro, a gotinha escorregou e foi com as outras gotinhas, agora já com pressa. Era muita água. A gotinha pensou mais uma vez:
– Onde é que vou parar?
Foi parar ao rio. O rio, por sua vez, desaguou no mar.
A gotinha não gostou daquela água. Era salgada.
Um menino andava a brincar na areia, junto ao mar, e com a mãe foi tirar um baldito de água. Fez um castelo na areia molhada, ali mesmo, à beirinha ainda na espuma das ondas. O mar fez uma onda mais forte e levou-a com ela.
No meio de tanta água salgada, pensou que ia morrer afogada. Mas não! Mais uma vez, e sem perceber muito bem como, viu-se presa a um raio de Sol e sentou-se numa nuvem.
Aí, conversou com a nuvem. Contou que foi parar a um balde cheio de água, às pétalas de uma flor, a uma jarra cheia de flores, na casa de uns senhores que cantavam, riam e falavam muito.
Contou ainda, que andou a passear nas costas de uma rã e viu o mar. E que o mar tinha ondas e era salgado. A nuvem riu-se, porque ela mesmo era feita de muitas gotinhas iguais, e que muitas delas também tinham vindo do mar, tal como ela.
Quando voltar a chover, a gotinha terá novas aventuras que serão todas tão interessantes como esta.
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