Era verão e a Carlota estava de férias com os pais numa praia paradisíaca, bem longe do seu país. Ela estava deslumbrada. Não era tudo muito diferente da sua praia perto de casa, mas as pessoas falavam uma língua estranha, a areia era mais clara e o mar mais transparente. E, para além disso, a Carlota fartava-se de encontrar bichinhos à beira mar: estrelas do mar, caranguejos, lapas e até tartarugas! A Carlota andava fascinada com esse mundo novo. E, quando entrava na água, muitos peixinhos vinham ter com ela, dar-lhe beijinhos nas pernas e nos pés, e ela ria-se com cócegas!
Um dia, estava ela na água a brincar com um peixe, quando os pais começaram a gritar muito, à beira mar, a gesticular na sua direção. Demorou, mas lá percebeu o que os pais diziam:
— Carlota, sai daí! É um tubarão!!!
A Carlota olhou espantada para o peixe e perguntou-lhe:
— És um tubarão?
Como o peixe acenou que sim, envergonhado, a Carlota riu-se:
— És um tubarão mesmo querido! Vou chamar-te Sebastião!
Ele parecia sorrir e a Carlota achou que tinha gostado do nome. Mas, de repente, o Sebastião desapareceu. Os pais, que já tinham entrado na água, assustados, respiraram de alívio. Mas depressa perceberam que ele tinha ido buscar uma tartaruga que tinha ficado entalada numas pedras. Pouco depois, levou um peixinho pequenino que estava perdido até junto do seu cardume. Mais tarde ainda ajudou um caranguejo que estava todo enrolado numas algas. A Carlota estava embevecida, os pais ainda desconfiados:
— É um tubarão, Carlota, um tubarão ainda bebé, mas não deixa de ser um tubarão! Não facilites!
E o Sebastião acenou e afastou-se dela, meio sorridente.
À tarde, já nem a Carlota nem os pais se lembravam do Sebastião quando ele apareceu junto da Carlota que nadava tranquilamente e a empurrou cheio de força para a beira mar. A carlota gritou, assustada. Afinal o Sebastião era um tubarão igual aos outros! Mas, quando olhou à sua volta, viu imensas alforrecas a cercarem-na. O Sebastião empurrava as alforrecas para longe, a abrir caminho para a Carlota passar até ao areal. O Sebastião estava a ajudá-la! A Carlota nadou até á beira mar e agradeceu feliz. Os pais da Carlota acenavam-lhe sorridentes. O tubarão Sebastião era um herói!
Agora vamos lá! Pensar com calma faz bem à alma!
— O que fazia o Sebastião no mar?
— Todos julgamos que os tubarões são maus. O Sebastião era mau?
— Podemos enganar-nos quando julgamos os outros pela sua aparência?
— Aquilo que parecemos, ou o grupo a que pertencemos, obriga-nos a agir de determinada forma?
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