O Ricardo era um rapaz muito alegre e sempre bem-disposto. Mas, ultimamente, andava muito rezingão. Parecia que tudo lhe andava a correr mal. Primeiro andou com uma gripe gigantesca. O nariz dele já parecia o de um palhaço, de tão vermelho! As notas também baixaram, a pique, de um momento para o outro. Depois, caiu e rasgou as calças novas de que tanto gostava… Andava cheio de azares, o Ricardo! E cada vez andava menos bem-disposto, porque quando o mundo não nos sorri de volta muitas vezes, começamos a deixar de ter vontade de lhe sorrir outra vez.
O grande problema é que o Ricardo cada vez respondia pior a toda a gente! Ele, que era sempre um rapaz simpático, anda insuportável! Queixavam-se os professores, queixava-se o irmão, queixavam-se os pais e até já os colegas da escola! O António, o seu melhor amigo, andava sempre a dizer-lhe:
— Tem calma, Ricardo! Não precisas de ficar assim!
Mas tudo era motivo para “ficar assim”. O atraso no autocarro, uma nota mais baixa no teste, o professor que o chamava à atenção, um amigo que mandava uma piada que ele não gostava… tudo levava o Ricardo a exaltar-se. No último jogo de futebol, aconteceu o que já todos esperavam. No meio de uma discussão — se era ou não penálti — o Ricardo explodiu aquela raiva toda que andava a guardar dentro dele. Gritou contra tudo e todos, abria os braços e gesticulava e gritava ainda mais. Enquanto os seus colegas o tentavam acalmar o árbitro mostrou-lhe o cartão vermelho. Mais gritaria por parte do Ricardo, mas sem efeito. Teve de abandonar o jogo. Já sentado no banco, o treinador só lhe pedia que respirasse fundo e se acalmasse. O jogo prosseguiu e, no fim, o Ricardo foi pedir desculpa aos colegas de equipa, aos adversários e ao árbitro. Não se tinha portado bem, ele sabia. O António ria-se e, enquanto lhe dava umas palmadinhas amigáveis nas costas, só dizia:
— Tem calma, Ricardo! Não precisas de ficar assim!
Agora vamos lá! Pensar com calma faz bem à alma!
— O Ricardo era um rapaz sempre bem-disposto. Porque é que achas que de repente ficou um rezingão?
— Temos de conseguir sorrir sempre ao mundo, mesmo quando ele não nos retribui e as coisas nos correm todas mal?
— As coisas más que nos acontecem interferem na forma como tratamos os outros? Porquê?
— Porque é que gritamos quando estamos zangados?
You must be logged in to post a comment.