Não sei se conhecem aquela sensação quando colocamos os pés em água gelada, lá para os meses de Março, Abril… principalmente se for na Costa da Caparica. Inevitavelmente sai-nos um “doí-me os ossos dos pés” e até mesmo um f*****, se estiver mesmo gelada.
Esta dor, aumentada 10000000 de vezes, gosta de se instalar como um hóspede não convidado e atrevido na minha mão esquerda, na coxa direita, na tíbia direita, nas articulações dos joelhos, às vezes na mão direita e quase sempre no meu coração que se revolta. Estas são as minhas dores em dias de crise, ou em dias de não-crise. Isto dói, caraças.
Aprendi primeiro a depender de analgésicos. Agora nem um ben-u-ron trago na mala. Para quê? Vai doer, e depois vai acalmar. Vou ganhar asas de esperança, e volta a doer.
A seguir, aprendi a dormir muito, muito, muito – enquanto se dorme não se sente, verdade? Mas o problema é que também não se vive.
Da última vez internada, só foi lá com a “dose de cavalo”. Morfina de 2cc, em 2cc, até não haver mais na seringa. E na seringa a seguir a essa, e na outra, e durante os primeiros 6 dias internada assim foi. A morfina, sei agora, não me tira a dor completamente, mas embalou-me nos braços e aconchegou-me.
Vivo com dor e febre intermitentes há 6 anos. Nunca estou só, nunca estou só eu. As duas – ou uma delas – cola-se a mim. Se estou a caminho do trabalho (e tento andar 20 minutos a pé por vezes) a dor está lá; se estou a beber um copo com os amigos “cá fora de pé para se fumar”, a dor está lá, se estou a dar a sopa ao meu filho a dor está lá na mão do principio ao fim, se me ajoelho numa igreja para pedir que me tire disto a dor está lá.
Tenho lúpus, mas o Lupos ainda não me tem a mim.
Rita Alves
“Heat the pins and stab them in, You have turned me into this Just wish that it was bullet proof” |
“Aquece os pinos e crava-os em mim Você transformou-me nisto Só desejo que fosse à prova de bala“ |
“Bulletproof” de Radiohead |
https://www.youtube.com/watch?v=jf2Vm5jCEIs
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