Jaqueline Reyes: Escolha cuidar de si mesmo

Jaqueline Reyes: Escolha cuidar de si mesmo

Estes dias eu li que “pais não deveriam morrer nunca”, e fiquei a pensar nisto, porque isso de sermos pais é algo tão doido quanto profundo, é tão dar que nos perdemos e nos encontramos neste ato…enfim hoje escrevo como mãe que ama muito as filhas que tem, sim Deus é fantástico que nos deu duas para gente aprender muito sobre diversidade humana e as diferentes formas de amar, mas que como todos os pais tem dias que a gente pensa melhor sobre o que andamos a fazer e se estamos a fazer bem.

Fico sempre aliviada quando encontro outra mãe ou pai que me fala sobre os mesmos sentimentos que temos de insegurança e impotência diante desta responsabilidade e compromissos gigantes, sobre os questionamentos que fazemos a cada novo desafio que os filhos nos trazem como que a testar não só a nossa paciência…risos… como o nosso amor e a nossa capacidade de repetir mil vezes as mesmas frases. A isto chamo de amor profundo, tão profundo que não queremos que eles sofram, então por vezes somos demasiados exigentes e isto nem sempre acaba no melhor resultado de primeira, mas depois tem aqueles momentos onde queremos que eles entendam o que nem nós mesmos entendemos: liberdade e limite. Desculpe, mas quanto tempo cada um de nós precisou para perceber este binómio?

Vou falar primeiro do limite porque fui daquelas que foi educada com limites claros, do olhar do meu pai que nem precisava de abrir a boca ao descabelar da minha mãe…tem sempre um que precisa de ser o “doido” e o outro o mais “sossegado” mas o fato é que a primeira fase da vida fica claro até onde podemos ir e por isto nos agarramos tanto a figura materna porque ela nos dá a segurança de que embora sejamos traquinas ela ainda vai nos deixar comer a ultima bolacha do pacote. Ela nos nutre de muitas e diferentes formas, na antroposofia do que se nasce até aos 7 anos, aproximadamente, é o tempo da “mãe”. Não quer dizer que o pai não seja importante, ok? Só que no ciclo seguinte é pai que toma o papel principal e a mãe fica ali só de olho… fase dos 7 aos 14 anos, quando é preciso arriscar e por a prova a si mesmo e vamos concordar que os pais são ótimos nisto, porque são mais destemidos, porque os deixam ir aonde os olhos não veem… enfim… vamos percebendo que para cada fase um vai ter o papel mais dominante para dar aquela criatura amada, nossos filhos, tudo o que precisa para ser um adulto inteiro.

E aí você encontra crianças que perderam o pai, ou a mãe, seja pela razão que for… é duro, e talvez por isto a pessoa escreveu que “os pais nunca deveriam morrer” provavelmente perdeu um deles mais cedo do que se esperava, se é que tem algum tempo onde a gente os possa perder sem sentir a falta. Eu perdi meu pai aos 20 anos, hoje com 50 tenho mais tempo sem ele do que com ele, mas se fechar os olhos posso ver o sorriso dele quando nos via felizes, quando ria connosco sobre um tema qualquer, se tenho saudades dele? Sim, tenho imensa saudades dele em momentos que podem parecer tolos como quando casei, ou mas meninas nasceram… em dias de chuva para tomar chimarrão e jogar conversa fora.

Com o tempo veio a liberdade, que foi obtida pela confiança e conversa, muita conversa sobre tudo e mais um pouco. Penso que as conversas agem como pontes, e são estas pontes que nos permitiam ir e vir sempre, ainda hoje ao bem da verdade temos as conversas como ponte de amor.

E porque este tema hoje? Porque como pais deveríamos mesmo cuidar da nossa saúde e olhar profundamente para as nossas escolhas. Como pais temos um papel tão, mas tão grande nos nossos filhos que temos que ser mais conscientes do que andamos a fazer ou não por nós e por eles. Sei que um dia todos vamos passar para o outro lado, mas isto não invalida o que disse, temos que nos cuidar, temos que nos cuidar por nós e por eles. Quer algo mais triste que crianças pequenas tendo que lidar com a perda de alguém tão importante assim? Quer algo mais pesado para se viver do que quem fica ter que lidar com tudo isto sozinho e ainda ter que ser forte para dar suporte aos pequenos?

Ao longo dos anos acompanhei adultos e crianças que tiveram esta lição na vida, e digo que não é para os fracos. É preciso muito apoio de todos os tipos e ainda assim haverão cicatrizes a serem um dia tratadas/curadas, porque tudo se trata e cura, com tempo e amor tudo vai ao sitio, mas o preço é alto.

Hoje, gostava de alertar aos adultos que são pais ou se preparam para serem pais, que pensem nas suas escolhas, que façam as suas consultas de rotina, que tirem tempo para estarem com seus filhos e não para cobrar nada, mas para disfrutar deles e criar memorias boas. Que cuidem do que comem, mas também do que sentem, porque o stress em que se vive por vezes traz doenças como a depressão e o cansaço que se tratadas devidamente não fazem muito dano a ninguém, mas se deixarmos para tratar destes sintomas quando já estamos no fundo poço teremos feitos algumas mossas no percurso e mossas em quem mais amamos: família!

A depressão é um assunto demasiado sério para não ser visto com olhos de se ver, se está cansado da vida, se não tem paciência com nada, se tudo o incomoda e nada o faz feliz, pare tudo e marque uma consulta com um profissional de saúde. Estes são alguns dos sintomas que todo gente associa ao stress da vida, mas se anda irritado a ponto de discutir por tudo e por nada, já viu o que estado de stress que seu filho(a) sente? O medo que está a criar nesta criatura que prometeu amar e cuidar?

Sempre há uma solução, mas precisa de parar, precisa de parar de sofrer e fazer sofrer, precisa parar e buscar ajuda.

Como mãe entendo o stress de ser pais e profissional, sei o esforço que fazemos todos os dias para que tudo esteja o melhor possível, não estou escrevendo só por escrever, mas porque sei que conciliar tudo é trabalho hercúleo mas fomos nós que escolhemos este papel e cabe a nós darmos o nosso melhor, e cuidar da nossa saúde mental, física e emocional é dar o nosso melhor para nós e para os nossos filhos e companheiros.

Assim quem sabe vamos todos ter muitas memorias e historias para contar para os nossos netos sobre os nossos filhos.

Que Outubro traga a consciência de que somos frutos das nossas escolhas, e que podemos mudar as nossas escolhas sempre que for necessário e tudo bem.

Jaqueline Reyes

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