Educar para a vida…
…hoje escrevo como mãe, porque é neste papel que vejo um maior impacto a questão do confinamento ao qual estamos sendo submetidos nos últimos tempos, mesmo sendo a favor desta ação, contudo há sempre o duo “custo x benefício”.
Qual o pai que não sonha o melhor para os filhos? Qual o pai que não deseja que ele possa viver livre e seguro as experiências de cada idade? Qual pai que não sonhou com um dia ver o filho(a) ir para a faculdade e tudo que isto implica?
Bem, nós aqui em casa sonhamos tudo isto, e sendo que eu tenho uma experiência de estudar fora de casa e com o que isto incluía que era viver com outras pessoas num cidade diferente, onde além da universidade ser novidade tudo o mais também era. Já o meu marido teve uma experiência de tirar o curso da universidade morando em casa dos pais… seja como for, cada um de nós teve a experiência da liberdade, do ver qual é o limite de cada coisa. Então, confesso que sonhava o dia que a nossa mais velha ia viver isto, mas nunca iria imaginar que seria tudo tão diferente e para além da minha imaginação, pois nunca iria pensar na possibilidade de uma pandemia.
A vida ensina que não existe nada tão certo que não possa ser mudado, que tudo o que pensava poderia mudar de um minuto para o outro sem qualquer possibilidade de controle que não seja controlar-me. Assim é a vida, cheia de surpresas e mudanças.
Ano passado foi aulas online, foi não ter jantar de finalista com a turma toda, foi terminar um período e começar outro num contexto onde se normalmente já é o que é, agora consegue ser ainda mais desafiante para os jovens e pais do que era antes. É desafio atrás de desafio, é acordar pensando branco e ir dormir pensando preto, é ter que rever-se a cada minuto e ir se adaptando a cada nova informação. Mas é fácil para quem?
Há muita controversa sobre ir ou não ir aos colégios, sobre ficar em casa ou sair… e gente, bom senso deveria prevalecer dos mais velhos para com o que isto tudo implica não só na vida dos nossos filhos, mas na vida dos filhos dos outros, do impacto disto tudo no grupo como um todo… sair da zona do ego e entrar na zona da consciência.
Então educar para a vida é olhar para o que andamos a fazer por nós e pelos demais.
É preciso ficar em casa para estudar, então é pra ficar em casa e estudar, mas o que vemos é montes de jovens na rua em grupos sem mascaras e sem cuidado algum… e aí não tem como não perguntar: o que se aprendeu em casa? Educação começa e termina em casa, os colégios ensinam variadas disciplinas mas bom senso, senso de cortesia e de justiça é em casa, é todo dia a dizer para os filhos que devem esperar e respeitar o tempo de cada um, pois os mais velhos andam mais devagar e falam muitas vezes o mesmo, que os mais pequenos são arteiros e se não olhar podem se machucar, que os jovens precisam de espaço mas limites nas mesmas quantidades… que o irmão mais novo deve respeitar o irmão mais velho, mas que o inverso também é verdadeiro, porque é respeito pelo ser humano, mais do que irmãos.
Por isto quando leio comentários sobre abrir ou não os colégios, sobre os riscos para a saúde… fico pensando no paredão cheio de gente caminhando em grupo e sem mascaras, penso nos mercados cheio de gente se atropelando para aproveitar os descontos, penso no que foi o mês de dezembro… penso que houve faltar de olhar para além do eu.
Hoje enquantou escrevo tenho uma universitária estudando para exames e uma secundarista com aulas on-line onde precisa dobrar o foco pois está em ano de exames onde as notas contam para a entrada para a universidade, e isto significa que a pressão sobre as duas é grande, só que a parte do relaxar com amigos e sair está fora de cogitação. Resultado desta equação é que nós enquanto pais e elas enquanto filhas precisamos descobrir uma forma de não dar em doidos todos juntos quando todo o sistema nos leva num ponto de stress grande. E aí entra o conceito do educar para a vida… respeito por si e pelo outro, respeito pelo seu tempo e pelo tempo do outro, respeito pela limite de cada, respeito … respeito é o mesmo que amor, mas é o amor em ação.
Educar filhos é um sacro oficio, é olhar para a vida e perceber que ela é maior do que imaginamos, é mais mexida do que podemos querer mas que tudo isto é a vida, e que se queremos pensar num mundo de paz e igualdade vamos ter que ensinar o respeito e a disciplina. Não é respeito de quem não pensa ou disciplina cega, é muito pelo contrário, educar para uma consciência de responsabilidade a cerca de cada escolha e ação que se tenha, porque tudo tem um preço.
Qual o preço que estamos dispostos a pagar para termos os filhos vivos? Qual o preço que estamos dispostos a pagar para mantermo-nos saudáveis e vivos? Qual o preço para não perder a sanidade quando tudo parece estar de ponta cabeça?
Cada um sabe de si, mas se não pararmos para pensar sobre o que é de fato educar, sobre o que é de fato ser gente, o que podemos esperar do futuro? O que podemos almejar para os filhos dos nossos filhos?
Sonho com o dia em que as nossas vidas entrem numa “normalidade” segura, onde as meninas possam voltar as suas rotinas sem tantas restrições que fogem do controle delas… sonho com o dia em que tomar um café com amigos não seja algo perigoso, que visitar avós seja um dia divertido para todos… com o que sonha você?
E o que estamos de fato fazendo para estes sonhos serem possíveis?!
Se puder, fique em casa! Se puder educa o seu filho para ser gente.
Um Fevereiro de recolha e paz para todos!
Jaqueline Reyes
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