… por muito que me digam que o dia tem 24h eu já estou na fase do “nem pensar”, porque o dia voa, a semana não dá para tudo e já estamos no começo de outro mês. E aí nos perguntamos, o que fiz estes dias todos? O que foi feito do Verão, que já estamos no Outono? Quando foi a última vez que falei com este ou aquele amigo ou parente? Tem esta sensação também?
São este momentos que me fazem equacionar as escolhas que fazemos a cada dia, a cada hora, porque há um ponto onde queremos tanto e podemos mais, só que… qual é o nosso limite, qual o ponto onde dizemos basta ou é o suficiente?
Como mãe digo que parece nunca ser o suficiente, porque queremos dar, fazer, acompanhar, estar lá e estar cá para tudo o que eles precisam ou nós pensamos que eles precisam, uma doação que é maior do que nós mesmos, um amor que é maior do que toda a vida, então os limites se fazem mais do que necessários, são as linhas que nos permite viver sem sobrecarregar a nós próprios ou a eles. Muito dura esta linha, mas lembra, super importante!
Como profissional eu confesso que sofro quando vejo escolhas doidas que resultam em sintomas ainda piores que as próprias escolhas, mas aqui cabe não o limite mas a aceitação de que para cada pessoa há um caminho e que o meu papel é ajudar quem quer ser ajudado, não posso obrigar as pessoas a fazerem o que quer que seja, ainda que seja para o bem delas, por isto gosto de trabalhar em parceria com outros terapeutas e profissionais, porque juntos podemos mais e o que se quer é isto, dar o melhor para um processo terapêutico, e lembrando de aceitar o tempo de cada um.
Como pessoa, preciso unir os limites, com a aceitação e os meus objetivos pessoais… adoro ser duas ou mais Jaquelines para fazer tudo o que quero e ainda descansar. Tenho uma cliente que me disse estes dias que a tinham enganado, que lhe tinham dito que depois dos 50 ela iria acalmar… rimos muito, porque de certeza alguns acalmar depois dos 50 mas não parece ser o caso dela ou o meu, ou de tantos que conheço e nem sei se é bom ou não. Agora, que eu gostava de vez ou outra ser daqueles que sossegam, mas é que gostava mesmo nem que fosse para saber exatamente o que sentem. Só que me coube o tal do bicho carpinteiro, do fazer e fazer, então este ano que já vai em Novembro me obrigou mais do que uma vez a parar, a sossegar, e sabe… descoberta das descobertas, a vida seguiu seu rumo, nada parou, só tomou outra forma e velocidade, mas tudo aconteceu de um jeito ou de outro.
Para quem é perfeccionista, é um aprendizado de confiança e humildade, e por isto mesmo, hoje sou mais do que apologista do slow, do “dê o seu melhor mas não se mata por cumprir com expectativas irreais sobre si mesmo” ou sobre o que pensa que o outro pensa que você deve ser ou fazer. Rebuscado não é?! Pois, mas a verdade é que muito do stress que vejo em muitos dos meus clientes tem haver com estas expectativas a cerca do outro, do pensar do outro… desculpe, mas o que o outro quer ou espera é problema dele e não seu e ponto final.
Fácil de dizer e duro de aplicar na vida real, mas insisto tanto com isto que em algum ponto acaba por acontecer, porque a verdade é esta, acerca da sua vida e do que sente, só você mesmo para saber ou viver. Pode tornar isto mais claro falando sobre o tema com que for caso disto, pode trabalhar esta comunicação com um profissional, pode fazer tudo mas terá que aprender a ser claro e assertivo consigo mesmo e com os demais, porque não há bola de cristal e nem reposta certa ou errada. Há uma pessoa com milhões de sentimentos resultantes de vivências pessoais ou frutos da educação que receberam, e isto é um mundo imenso dentro do mundo de outros mundos.
Então, talvez seja hora de cada um parar um pouco e rever o que anda a fazer ou viver por si e pelas “expectativas” dos demais. Quem o ama, amará independente do que for caso disto, e quem não o ama não interessa de todo. Ouvi estes dias algo que achei interessante sobre gente depressiva, e a pessoa dizia algo como “se está depressiva precisa de ver a sua vida, porque é a sua vida que está depressiva e não você.” Gente, fiquei dias a pensar nisto e sabe de alguma maneira é verdade, porque a palavra depressão provém do termo latim depressus, que significa “abatido” ou “aterrado”, então é em linhas básicas um abatimento de uma linha que antes era reta e que agora está assim como que funda. Ou seja, antes a vida era uma linha reta e agora tem um buraco, mas o que levou a criação do buraco, a vida ou a suas escolhas no caminho da vida?
Seja como for, cada um de nós precisa se recordar de quem é, precisamos aceitar quem somos e isto inclui tudo desde o joanetes a miopia, do cabelo ralo ou farto, do ser alto ou baixo, do ser explosivo ou pacificador… precisamos parar de querer ser o que não somos e começar e viver melhor quem se é. Isto sim é ser saudável e inteiro, tudo o mais são reflexos das nossas ilusões ou expectativas alheias.
O que fazemos no Outono? Pensamos, refletimos sobre o que está a funcionar e abrimos os olhos para o que não está, para que assim possamos voltar ao nosso centro, interiorizar e trabalhar quietinho sobre si mesmo, aproveitando a chuva e o frio, o desacelerar tipo desta estação que tão sabiamente nos leva a ficar mais em casa.
Não há formula secreta para a vida, há trabalho e muitos possíveis caminhos, mas tudo vai requer que se tome uma decisão e se faça uma escolha não sobre o que os outros querem, mas sobre o que você quer ou precisa para a sua vida.
E se hoje pudesse dar conselho sobre a vida, certamente seria: vive a sua vida, saia da sua zona de conforto e viva, que a morte é certa para todos. Quer pintar o cabelo, pinte que se não der certo ele cresce, se quer mudar de profissão faça com cautela e bom senso, porque a vida é sua sim, mas há sempre um ponto de encontro entre as suas escolhas e as escolhas das pessoas que vivem com você.
E que seja um Outono de revisão interna para todos.
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