Fui dar um pequeno passeio pelo jardim. Sentei-me num banquinho de pedra que o meu pai ali colocou quando mudou a escada para uma outra porta, mas aproveitou os degraus e fez uns bancos onde nos sentamos nas tardes quentes de verão. Por cima, tem uma laranjeira carregada de laranjas que nos tiram a sede e refrescam.
Levei um livro para ler mas fiquei a olhar uma folha da laranjeira que tinha um novelo pequeno por baixo. O novelo mexia-se de vez em quando. O que seria? Pouco a pouco, o novelinho rompeu e lá de dentro saiu uma lagartinha com asas muito enrugadas e feias.
Mais curiosa fiquei. O que eu pensava ser uma lagarta, alongou o corpo e estendeu as asas. Dois pares de asas, lindas, cor-de-rosa.
Levantou voo e foi empoleirar-se num raminho, junto ao lago. Olhou-se vaidosa. Descobriu que era uma libelinha. Foi juntar-se a outras que sobrevoavam o lago. Havia bastantes. Mas… que curioso! Nenhuma delas tinha asas cor-de-rosa. Eram azuis ou verdes. Uma delas, mais sabida, fez troça:
– Tu és de outra cor. Nunca vi uma libelinha cor-de-rosa.
A libelinha ficou triste e foi embora dali.
Viu um passarinho também pousado num ramo e perguntou:
– Passarinho. Achas que sou muito feia? Sou muito diferente das minhas irmãs libelinhas que são azuis e verdes. Eu sou diferente!
O passarinho, também ele entretido a fazer o ninho, não lhe ligou muito, mas foi-lhe dizendo:
– Não te preocupes com isso. Eu também sou diferente. Tenho penas amarelas e verdes. As pessoas chamam-me papa-figos. Mas eu não me importo.
A libelinha de vez em quando ia ver-se ao espelho, que eram as águas do pequeno lago. Não gostava da cor. É que as outras libelinhas não lhe ligavam. Era diferente. Pronto!
E o verão ia passando devagar.
A libelinha entretinha-se a brincar com as flores. Pousava numa, e noutra, e ainda noutra. Ao menos as flores riam com as cócegas que as patinhas pequenas faziam nas suas pétalas. As flores também tinham cores diferentes.
Mas o Verão deu lugar ao Outono. Os dias começaram a ser mais pequenos e mais frios.
A libelinha, tal como as outras, recolhia-se nas folhas da laranjeira. Também ela fez um casulo e colocou lá dentro uns pequeninos ovos. Desses ovos irão sair no verão outras libelinhas, talvez também com asas cor-de-rosa.
Quanto às libelinhas com asas verdes, azuis e a de asas cor-de-rosa, todas seguiram o seu ciclo de vida, sem saber muito bem o que a vida lhes reserva, dando lugar a outras libelinhas.
É assim o ciclo de todas as vidas, de qualquer cor que sejam.
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