Cada família tem a sua receita de família, talvez um Pão-de-Ló em que a receita vai passando de geração em geração, ou se calhar um cabrito assado daqueles de comer e chorar por mais. Bem, na minha família temos muitas dessas comuns receitas de família mas, a minha favorita (e mais simples) são as “batatas de quando a avó não está em casa”.
A minha avó nunca se conformou com a reforma. A Dona Natércia Martins não podia ficar de maneira alguma em casa durante o resto da sua vida, então sempre arranjou coisas para fazer nos tempos livre, uma delas (e a que ocupava mais tempo) era o rancho folclórico. Havia um ensaio do rancho todos os sábados à noite e a minha avó ia sempre a horas, deixando me a mim – ainda pequenina – e ao meu avô, sozinhos em casa.
Na horta do meu avô havia umas batatas que eram demasiado pequenas para qualquer tipo de acompanhamento. Então, nestes jantares de sábado, o meu avô pegava nestas batatas, cortava-as muito finas e fritava-as. Depois, havia umas batatas que eram mesmo muito pequenas, que ele as fritava assim mesmo. Ficavam sempre uma delícia.
Estas batatas só eram feitas quando a avó não estava mas, sinceramente, nunca entendi porquê. Acho que no inicio, era porque aquilo fazia demasiado cheiro a fritos e fazia demasiada louça suja. Agora? Agora simplesmente fazemos quando a avó não está em casa, só pela graça de voltar aos tempos antigos. Apesar de agora ser muito raro eu ficar em casa com o meu avô sozinhos, porque agora até eu apanhei o bichinho do rancho e já não largo aquilo.
Mas eu continuo a adorar quando chego a casa dos meus avós, depois de uma hora e meia de viagem, e o meu avô diz: “Sara, tenho daquelas batatas para fritarmos.”. É sempre uma alegria saber que temos estes pequenos miminhos, que parecem ser insignificantes, mas que no fundo simbolizam muito.
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