“O meu filho não come isso”.
“O meu filho não gosta”.
“Ele só come porcarias”
“Difícil pô-lo a comer essas coisas…”
Tenho 3 miúdos pequenos que educo para comer. Educo porque a alimentação também se educa e sobretudo acredito que educo pelo exemplo. Eu própria tive de me reeducar. Amava Coca Cola, pão com manteiga, massa ao pequeno almoço, leite de vaca ao almoço para acompanhar a refeição em miúda, tudo ia bem com natas. Aceitava caldos Knorr na cozinha e não havia como fazer uma sobremesa sem açúcar refinado. Um bom bechamel por cima de bacalhau e batatas fez me voltar a comer depois do maior desgosto de amor da minha vida. E não, não me matou (nem a alimentação nem o desgosto!). A minha mãe fez o melhor que sabia e eu também fiz as minhas escolhas.
Eu acredito mesmo que cada pai faz o melhor que sabe e pode.
Ontem jantamos umas tortillas com feijão preto estufado, arroz branco e guacamole. Arroz branco é a loucura do meu filho Miguel. Sempre que há arroz branco em casa ele dá pulos de alegria e corre às voltas na sala com os braços no ar a gritar “Viva!!”. É o fast food dele.
Digo fast food porque o arroz branco não tem grande interesse nutricional. Já foi lavado e lavado e lavado depois de descascado e retirada a fibra e vitaminas. É amido. No arroz integral encontram se minerais como o fósforo, o ferro e o cálcio bem como vitaminas do complexo B.
Mas de vez em quando há arroz branco e tudo bem com isso.
Todos os miúdos lá em casa comem cereais integrais desde sempre. Arroz integral, cevada, trigo, quinoa, millet, amam triângulos de polenta. Ás vezes o Miguel pede-me “bulbur” (bulgur) , adora “terraba” (beterraba) e diz “pleutothus” na perfeição. Comem todas as leguminosas, vegetais, mais amantes de uns que de outros, sementes e os fermentados vão a boca e voltam para o prato! Não obrigo ninguém a comer sopa, nem a comer o que não quer. Lá em casa nunca houve “o deles” e “o nosso”. Comermos sempre todos os mesmo. Não coloco etiquetas em quem somos, nem em como comemos, mas acho que estes miúdos comem super bem.
Graças a Deus o tema alimentação nunca foi um problema para nós. Vejo pais doidos com o assunto, e por isso hoje tenho muita vontade de partilhar a minha perspetiva convosco!
👉🏻 Não te stresses e esquece as modas. Faz o que sentes que é certo para ti e para os teus. O que serve para um pode não servir para todos e muitas vezes escolher a opinião alheia faz-te inseguro. Se queres mudar alguma coisa primeiro aprende até que te sintas segura/o.
👉🏻 Antes de pensares neles começa por ti. Não lhes vendas o que ainda nem tu compraste.
👉🏻 Eles comem o que há em casa. Se achas que não é saudável, … não compres!
👉🏻 Comam todos o mesmo. Eles querem comer o que nós comemos. E mesmo quando os pratos são iguais o nosso é sempre melhor!👉🏻 Pensa em INCLUIR e não em EXCLUIR. Oiço muitas vezes “já não comemos carne”, “já não bebemos leite”. Eu acredito que a meta e o objetivo é a inclusão de uma alimentação rica e variada e nem tanto a exclusão. Retirar alimentar sem acrescentar alimentos de boa qualidade de nada serve. Então coloca o foco no que comer mais. E o que é para comer menos vai acabar por sair de forma natural.
👉🏻 Oferece-lhes tudo. Não penses tu que eles não gostam ou não comem. Muitas vezes o preconceito é nosso. Oferece-lhes TODOS os vegetais da estação, cheiros verdes, picados e inteiros. Não escolhas nem separes nada no prato deles. Se eles quiserem separar, deixa serem eles a fazer.
👉🏻 Age naturalmente com a alimentação. Não te encolhas quando vão comer alguma coisa que TU achas que eles não vão gostar, nem te stresses porque eles não querem comer isto ou aquilo.
👉🏻 Não os obrigues a comer. Conheces alguém que goste de comer alguma coisa que tenha sido obrigado? Comer é um ato natural que deve ser feito com prazer.
👉🏻 Há várias maneiras de comer a mesma coisa. Inventa! Sê criativa/o. Flores de nabo na sopa são super divertidas!
👉🏻 É o hábito que os vai construir. É aquilo que comem por norma e não o que é esporádico. Por outro lado o esporádico também não é todos os fins de semanas. A virtude está no meio.
👉🏻 Todos precisamos de fazer as nossas experiências pessoais. Os nossos testes. Deixa-os testar e acolhe as consequências. Aprende a reequilibrá-los, a curar as consequências e a limpar o corpo. A Macrobiótica apela ao equilíbrio e ensina-te como reequilibrar os excessos.
👉🏻 Procura oferecer soluções aos pedidos deles que julgas menos saudáveis. Pipocas? Faz em casa com adoçantes que advenham de fermentações de cereais integrais (geleia de arroz ou malte de cevada) Salame? Prepara tu em casa com cacau de boa qualidade ou alfarroba, com bolachas sem adoçantes refinados ou frutos secos tostados. Para tudo há uma opção!
👉🏻 e por fim. Relaxa e pede ajuda se necessário! A relação que temos com a alimentação é a que temos com a vida. Precisa ser desfrutada e vivida!
A relação da criança com a alimentação tem muito a ver com a sua relação com a vida, com a mãe e com as emoções. E é preciso olhar para tudo como um todo.
Se os pais estão bem em todos os sentidos, é bem mais fácil gerir com a criança e também neste assunto em particular.
Deixo-te duas receitas para fazer as delícias la de casa! 😉
1. Pipocas Doces
Ingredientes
- 4 colheres de sopa de milho para pipocas bio
- óleo de grainha de uva ou girassol
- 4 colheres de malte de cevada
- 1 c. chá de “café” de cereais (yannoh)
Preparação
Numa panela coloque um fio de óleo e quando estiver quente deite o milho para pipocas e deixe que façam POP com a tampa fechada.
Num pequeno tacho junte o malte de cevada e o café de cereais e deixe ferver.
Misture as pipocas neste caramelo e deixe que se colem umas às outras. Deixe arrefecer e disfrute!
2. Gomas de fruta
Ingredientes
- 200 ml de sumo de morango (romã, framboesa, frutos vermelhos)
- 1 c. sobremesa de alga ágar-ágar ou em flocos triturada
- 1 c. sopa de geleia de arroz
Preparação
Num tacho, adicione o sumo de fruta à escolha, a geleia de arroz e o ágar-ágar e misture.
Deixe ferver por 8 minutos e verta para uma forma de silicone.
Coloque no frigorifico por 1 hora e desenforme.
Um abraço!
Alexandra Abranches
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