Cada um de nós tem dentro de si inúmeras histórias por contar. Cada um com os seus pormenores, as suas metáforas, as suas vidas escondidas por entre ficções. Sabemos que duas pessoas não contariam uma história da mesma forma. É a singularidade humana que lhe molda os contornos.
Criar uma obra que sublinha essa diversidade através de vários autores e a acentua sem determinar temáticas é uma tarefa que tem tanto de arriscado como de estimulante. A Editora Alma Azul lançou no último mês de Abril essa corajosa antologia. É composta por seis autores: Antímio Damião, António Jacinto Pascoal, Edson Amaro, João Nuno Mendes, Luísa Lopes e Vanessa Martins. E estes seis autores trazem-nos a língua portuguesa na sua grande extensão, que abarca aqui três continentes: a antologia conta, não só, com autores portugueses, mas com um brasileiro (Edson Amaro) e uma moçambicana, residente em Portugal (Luísa Lopes).
O livro chegou-me às mãos com uma limpeza gráfica espantosa, aliado a pequenos detalhes nas badanas e separador. O peixe na capa a lembrar os oceanos que banham uma língua tão grande. Um scophthalmus maximus. O pregado que nasce com o corpo simétrico mas que se desenvolve assimetricamente com os olhos numa única face, porque vive e se alimenta nas profundidades e mantém então os olhos na face voltada para cima. Parece que esta assimetria inspirou o cubismo. Esta é uma interpretação totalmente pessoal, de uma leiga em biologia ou artes gráficas. Mas olho para a capa e é desta forma que a entendo: a profundeza a moldar-nos.
Abrindo-o e iniciando as leituras, encontramos êxodos da cidade para o campo; relações filiais profundas; a arte aliada ao pudor e a peles brancas e vermelhas; a falta de tempo que matou D. Quixote; águas benditas ou amaldiçoadas e empregos de dois minutos por dia, em turnos criadores. Sem temática de fundo que espartilhe quem escreve ou lê, esta é uma antologia livre, mas cuidada. Ainda fresca, mas já a circular pela wook, bertrand e feiras do livro. Vale a pena.
Sendo uma das autoras, hesitei em escrever este texto. Contudo, pelo prazer que toda a obra me proporcionou, não me parece de todo desproporcionado ou a infringir qualquer deontologia mediática. É um livro que, ainda que não fizesse parte dele, não resistiria a conhecer.
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