Sempre gostei de papagaios de papel.
Comecei com os papagaios de uma linha – chamados estáticos – e depois comecei a brincar com os papagaios de duas e quatro linhas – chamados acrobáticos. Estes últimos, permitem-nos fazer manobras, coreografias, etc. Como estamos a pilotar algo no céu, é muito aliciante e divertido de fazer.
Quando compramos um papagaio, queremos levar o nosso entusiasmo a voar o nosso novo brinquedo. Depressa descobrimos que fazemos muitas asneiras, muitas quedas, algumas varetas partidas e por vezes uns rasgões. Uma das primeiras coisas que se aprende é que os papagaios de papel são naturalmente atraídos pelas copas das árvores. É um fenómeno difícil de explicar, mas é com facilidade validado empiricamente.
Por saber isso, quem já voa com papagaios há algum tempo, tenta sempre (ou quase sempre) ajudar os novatos que, com uma teimosia surda, insistem em aprender à custa dos erros. Lembro-me de um amigo a dar um conselho que jamais esquecerei, a outro miúdo. E esta lição vai bem além dos papagaios de papel.
Estavamos na praia, no meio das multidões quentes de verão, e andava por ali um miudo a “inventar” com o papagaio. Um amigo meu aproximou-se dele e fez conversa que, a determinada altura, foi esta:
– Diz-me uma coisa – perguntou o meu colega – tu consegues controlar esse papagaio, certo?
– Claro que sim! – Respondeu a ignara confiança do miúdo.
– Agora diz-me outra coisa. Tu consegues controlar o vento?
Desta vez, a pergunta inesperada silenciou por uns momentos a resposta.
– Uh…. Não… Não controlo o vento…
– Então tem cuidado. Até podes controlar o papagaio, mas o vento pode levar-te o papagaio para cima das pessoas e podes magoar alguém.
Indicámos ao miúdo uma zona reservada para o voo de papagaios (destacada pela capitania responsável pela praia) e lá foi continuar os disparates à vontade.
Controlo é uma ilusão que nos dá uma frágil confiança nas nossas atitudes. É a consciência dessa ilusão que nos permite avaliar o teu Passado, Presente e o Futuro. Nesse momento, não confias, não controlas. Nesse momento, tomas consciência das tuas escolhas. E sim, avalias o teu Futuro, pois nesse mesmo instante, tomaste a decisão (consciente) do rumo que tomas na tua vida.
Em nenhum destes processos houve controlo. Minto. Houve, sim. Controlo do teu Ser, mas não de uma forma espartilhada. Houve um controlo de consciência, porque foste além do teu ser individual, do teu ser racional. Avaliaste de forma íntegra, nas três dimensões do teu Ser Consciente: Mental, Emocional e Espiritual.
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