Em silêncio

Em silêncio

Em diversas conversas com amigos, surge a questão do silêncio, em que uns dizem que era impossível, que não conseguem estar mais de 5 minutos calados, outros dizem que bom, estar em silêncio. Então, esta semana decidi partilhar mais uma experiência que tive de Silêncio (a primeira já partilhei com vocês, foi na minha viagem à Índia, onde podem voltar a ler no texto “O meu caminho no Yoga”).

Depois da minha viagem à Índia e da experiência que tive da prática do silêncio, durante o ano passado, em 2017,  cresceu em mim a vontade de ir a um retiro de silêncio em Portugal. Pensei que era possível fazer em casa, mas esqueçam, há todo um mundo de distracções que só com muito rigor e resiliência é possível fazerem em casa, por isso pus na minha cabeça que ia encontrar algo que fosse ao encontro do que procurava. Existem retiros de silêncio muito intensos e os mais conhecidos são os de Vipasana (uma das técnicas de meditação mais antigas na Índia, ensinada num curso de 10 dias e é muito rigoroso e exigente a todos os níveis, físico, mental, emocional e energético), mas eu procurava algo mais curto de 3 a 4 dias no máximo.

Após algumas horas passadas no computador, descobri um local que era “o local” que eu procurava, o Centro de Retiros Karuna, em Monchique, no Algarve. Inscrevi-me no retiro de 3 dias de meditação e silêncio e lá fui eu para o Algarve, em pleno 14 de Junho, num fim semana em que teve um calor abrasador, para esta experiência que tanto estava a chamar por mim.

O que ia à procura? Parar, tirar um tempo só para mim, para estar comigo própria, na natureza, mas não criei grandes expectativas do que ia encontrar. Mas digo-vos já que adorei a experiência.

O centro de retiros de Karuna é um espaço fantástico, no meio da natureza, um refúgio em plena serra de monchique, onde é impossível não nos sentirmos em casa, pelo caloroso recebimento da querida Ana, a mulher de Balkrishna, o orientador deste retiro. Este espaço foi todo concebido e criado por eles e é graças a eles que podemos usufruir destes dias e com a contribuição livre, fica à consciência e consideração de cada um dar aquilo que achar justo, sendo que nestes dias tudo está incluído, alojamento, refeições e a orientação.

Disfrutem um bocadinho do espaço com as fotos em baixo que partilho com vocês:

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O retiro do silêncio começou numa quinta feira depois de almoço e terminou no domingo seguinte antes do almoço… foram 3 dias inteiros sem falar. Devem estar a perguntar-se… 3 dias inteiros sem falar, mas será que é difícil? Foram de facto 3 dias de recolhimento, de introspecção, de paragem. É difícil pararmos os nossos pensamentos, e desligarmos do dia a dia, da correria do dia a dia, mas são transmitidas por Balkrishna ensinamentos muito simples, mas muito profundos, que está ao alcance de toda a gente, mas que muitas vezes está esquecido… e essa é uma das mensagens que Balkrishna transmite, que nada do que é dito ali é novidade, que ele está ali meramente para nos relembrar, baseando as suas orientações na filosofia budista.

O dia começava muito cedo, às 4h da manhã éramos acordados ao som do gongo, para às 4h30 estarmos todos no templo para cerca de 1h30 de meditação em silêncio. Confesso que este foi para mim o período mais difícil, o silêncio entranhava-se de tal maneira em mim, que dei muitas cabeçadas no ar. Às 6h da manhã tomávamos o pequeno almoço, preparado com muito amor e carinho pela Ana e por alguns voluntários, bem como todas a outras refeições vegetarianas. Depois desse período havia um período livre que eu aproveitava para ir dar uns passeios… e é tão bom, de manhã cedinho, ouvir os pássaros, o som da água das pequenas fontes. Depois havia mais meditação, às 11h o almoço, tempo livre, meditação, às 18h o jantar, meditação e às 21h/21h30 repouso. Foram dias muitos intensos, que me permitiram mesmo estar verdadeiramente comigo, lidar com os meus pensamentos, obter algumas respostas a perguntas que nunca me tinha colocado.

No domingo quando foi dada a liberdade para começarmos a falar, ainda demorou algum tempo conseguirmos voltar ao ritmo, mas confesso que o que me custou mais foi voltar a ouvir, e essa sensação durou quase uma semana, parecia que estava numa bolha, só conseguia assimilar o que as pessoas me diziam uns bons segundos depois, mas depois tudo voltou ao normal.

Uma meditação que passou no templo mais do que uma vez foi uma meditação dos monges Rimpoche que é simplesmente maravilhosa, e a qual partilho com vocês:

Estes retiros organizados no centro de retiros de Karuna têm-se realizado pelo menos duas vezes por ano, por isso se tiverem oportunidade, disponibilidade, permitam-se desfrutar desta experiência com vocês próprios, que sem dúvida não irão esquecer. E se for mesmo uma vontade vossa, não adiem, muitas vezes colocamos os outros primeiro que nós próprios e esquecemo-nos das nossas vontades. Espero que descubram o verdadeiro prazer de estar em silêncio e de estar com vocês. Boas práticas.

Mafalda Vaz

om Om Shanti om

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