Nas pálpebras superiores dos olhos do Luís as lágrimas eram produzidas em batalhão. O Luís era o que podemos chamar de choramingas. Chorava de alegria, chorava de saudades, chorava quando olhava para o sol de frente, quando um teste não lhe corria bem, quando se picava na roseira do jardim. Os amigos andavam sempre a chamar-lhe chorão mas ele, apesar disso, continuava a chorar, sem se envergonhar. Será que nos devemos envergonhar de chorar? O Luís tinha a certeza que não.
Bem, já dissemos que as lágrimas eram produzidas em batalhão. Não imaginam a correria nas pálpebras do Luís! Havia um enorme grupo sempre a postos, na sala de espera, enquanto outras se produziam quase continuamente. Parecia um exército como se vê nos filmes, mas de lágrimas! Lágrimas gordas e magras, curtas e compridas, tímidas ou cheias de curiosidade. Havia lágrimas de todos os feitios!
Mas havia uma, muito curiosa, que não queria sair de qualquer maneira! Queria ser uma lágrima de felicidade! Por isso, andava muito nervosa, na sala de espera da pálpebra direita, sempre de cá para lá e de lá para cá. De repente, parou atenta. O Luís ia brincar com a Rosinha, a sua grande amiga. De certeza que, se chorasse, iam ser lágrimas de alegria. Antes que qualquer outra lágrima desse conta, passou despercebida pelas suas companheiras de batalhão e conseguiu um lugar dianteiro. Prontinha para sair de alegria. Mas, entretanto, o Luís, tão distraído, tropeçou na raiz de uma árvore e, magoado, começou a chorar. Aquela lágrima, empurrada por todas as outras, só teve tempo de saltar para um canto. Ufa! Tinha conseguido! Recomposta, voltou ao seu lugar, a torcer para ser desta! Tinha de ser choro de alegria!!!
A Rosinha, ao ver o Luís tão magoado, tentou acalmá-lo de todas as formas. No final, lembrou-se de lhe contar as suas anedotas preferidas. E a Rosinha sabia tantas anedotas giras! O Luís, agarrado ao tornozelo aleijado, já só ria. Até lhe doía a barriga de tanto rir! Ria tanto que começou a chorar.
E a lágrima que queria ser lágrima de alegria e felicidade lá foi, escorreu pela cara do Luís feliz e brilhante!
Agora vamos lá! Pensar com Calma faz Bem à Alma!
— Os amigos do Luís chamavam-lhe chorão mas ele não se importava. Achas que ele é um chorão? E tu, também choras muito?
— Chorar é motivo de vergonha?
— Devemos ter medo de expressar as nossas emoções?
— Que outras formas, para além do choro, expressam as nossas emoções?
— Aquela lágrima só queria chorar de alegria. É mais importante chorar de alegria que de tristeza?
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