Enquanto percorria aquela rua deserta, despida de preconceitos e hipocrisias sociais, reparo numa sombra que caminhava ao meu lado. Não falava comigo, apenas seguia os meus passos atentamente controlando todos os meus movimentos. Estranhei, mas não lhe prestei atenção, procurando lembrar-me da ultima vez que tinha passado por ali. O meu cérebro, teimoso e adormecido de pensamentos, não me dava qualquer resposta remetendo para um imenso vazio qualquer tentativa de pesquisa no plano das recordações. Continuei o meu caminho em busca de respostas. Quando cheguei ao rio, encontrei sentado num pequeno banco de pedra, um velho sábio que me dirigiu o seu olhar.
– Que fazes por aqui? – disparou o velho.
– Quero ver o que existe do outro lado – respondi prontamente.
– E porquê tanta curiosidade?
– Porque deste lado as máscaras escondem os rostos de humildade. Ouvi dizer que do outro lado não precisamos esconder quem somos.
A sombra continuava estranhamente ao meu lado, como se fossemos dois viajantes inseparáveis.
– É verdade. E estarás tu preparado para enfrentares aquilo que não se pode esconder?
– Não sei, é isso que pretendo descobrir.
– Sabes que ao atravessares esta ponte, não podes regressar.
– Não importa. Ao menos, aqueles que se cruzarem no meu caminho serão o reflexo dos seus olhos e as suas acções serão fruto do coração. Saberemos sempre o que esperar de alguém.
O velho não pronunciou mais nenhuma palavra como que autorizando a minha passagem. Atravessei a ponte e cheguei à outra margem onde tudo me parecia igual. A sombra que até então me seguia tinha desaparecido e ali estava eu, apenas Eu, sem lugar para sombras, num mundo que esperava ser melhor, longe das falsidades humanas.
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