Foi a altura certa para num momento de reflexão, observar o oceano imenso e aprender. Para lá da sabedoria ancestral, proveniente de antigos rituais sagrados, as dúvidas permanecem na mente daquele homem solitário que desespera para que o mar, esse poderoso ser do universo, lhe mostre o caminho. Questões se levantam sobre o passado que condicionam o futuro. Naquele fim de tarde o céu espelhava um tom cinzento de tristeza, o vento soprava melodias carregadas de uma melancólica saudade. Vive-se um dia de cada vez quando acorrentados a memórias passadas. Sentado à beira mar, olhava para o horizonte à procura de respostas; questões colocadas por uma mente envolvida num sentimento de vazio, incompleta, incompreendida quando interrogada. Era difícil aceitar a certeza de um destino incerto, recordar as marés dos acontecimentos que tantas alegrias e aflições trouxeram. Ambas são passageiras. Todos aqueles momentos de desejo e paixão assombravam as suas memórias como fantasmas que viajam entre vidas, à procura do conforto dos seus pecados. Loucuras vividas na inocência do desconhecido, levadas ao expoente máximo de um prazer absoluto saltitavam repetidamente na sua mente, abrindo feridas no seu coração. E ali sentado, olhava o mar que crispava com fúria, naquele dia de inverno, de encontro às rochas que permaneciam serenamente deitadas na areia. De algum modo nascemos e morremos todos os dias. A resposta não chegou. Caiu a noite sobre o infinito. Deu a ultima passa no cigarro que segurava nos lábios, suspirou, expirando o ar carregado de nicotina e seguiu o seu caminho de regresso a casa deambulando pelas ruas desertas. Um turbilhão de emoções percorria o seu corpo como uma droga percorre as veias de um viciado. Voltou-se para trás uma última vez na esperança de ouvir chamar por si; o silêncio foi ensurdecedor. Amanhã é o futuro. Cada dia é como uma nova vida, uma encarnação. Um novo poema pode ser escrito na página em branco de uma história inacabada.
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