Era uma vez um caranguejo muito preguiçoso. Passava os dias deitadinho num buraco feito nas rochas. A água por vezes cobria a sua gruta mas o caranguejo não se preocupava muito. Subia para um lugar onde a água não o incomodasse e esperava pacientemente até que a água do mar voltasse a descer. A esta movimentação de subir e descer da água do mar, chama-se Maré. Mas caramba! Uma trabalheira, ter que subir e descer duas vezes por dia! Experimentou ficar e não subir, mas não dava. O caranguejo ficava coberto de água durante algum tempo e não gostava.
Vivia sozinho porque não queria que o incomodassem. Que chatice ter que dar conversa a outros bichinhos!
Quando o sol chegava e inundava a grutazinha, o caranguejo abria as pinças e ficava ali a deixar-se levar pelos pensamentos. Em que pensaria o caranguejo? Em comida, claro! Pensava em ter comida sem precisar de a procurar. A grutazinha onde morava – forrada de algas – era muito confortável e quentinha. Como era feliz! Mas ter que ir apanhar comida… Mais uma chatice!
Um dia, reparou que ali por perto já não havia nada. Ele tinha comido tudo! Alargar o local onde apanhar comida, estava fora de questão. Agora, teria que utilizar os vizinhos. Seria fácil, eles trariam comida e assim ele não ia precisar de sair dali. Mas havia um problema. Ele não conhecia os vizinhos!
Um caracol passou por lá e o caranguejo tentou chamá-lo. Mas nada! O caracol seguiu o seu caminho, sem sequer o ver escondido atrás de uma alga. Uma lesma do mar também passou devagarinho – as lesmas andam devagarinho, muito devagarinho. Um camarão meio perdido e a fugir do anzol de um pescador também não deu por ele.
O caranguejo empoleirado no alto da rocha distraiu-se e, sem se aperceber, uma onda maior levou-o com ela. Deu uma série de trambolhões, caiu de pernas para o ar, e mais umas quantas voltas, e foi cair na areia molhada da praia. Ali não havia mesmo nada. Só areia. Nem vizinhos! Nada! E agora?!?
Uma gaivota pousou perto dele e disse-lhe:
– Amigo. Vai até ao mar, lá ao fundo, e aí terás umas rochas com comida. Mas tens de procurar bem.
O caranguejo, um bocado contrariado, lá foi. Pensava que a gaivota lhe iria trazer comida – enganou-se!
A custo, lá foi, devagarinho, também.
Ao chegar, deparou-se com uma festa. Havia comida para todos, mas tinham que a procurar. Foi então que se apercebeu que, tendo amigos, a vida era muito mais bonita do que viver sozinho como antes.
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