Ao andarmos por ai, como pais que somos, ouvimos muitas vezes a expressão “Pais Diferentes”, sinónimo porventura de que os Filhos também serão diferentes.
Mas será que existem mesmo Pais Diferentes?
Acreditamos profundamente que existem pais que desejaram ser pais. Aqueles que, não tendo a noção do que isso era, passaram a amar os seus filhos de forma incondicional; e aqueles que nunca o desejaram ser e, por força das circunstâncias, aprenderam a sê-lo; e outros ainda que, mesmo assim, nunca conseguiram aprender a sê-lo.
Mas até ai tudo bem (ou não).
Mas hoje, a visão que trazemos do tema não tem a ver com o tipo de pais, mas com a visão diferente que alguns pais têm do resto da Sociedade. Perdoem-nos se achamos que aos 3 anos os meninos devem saber brincar, ao invés de contar até 60.
Na passada 6ª feira, em conversa com uma professora, eis que ela explica aquilo que poucos conseguem explicar de forma tão simples e objectiva. Estamos a educar crianças para serem adultos, estamos a educar crianças que, ao invés de brincarem, estamos a pedir que sejam adultos à força, porque fica bem ter filhos que aos 3 anos, mais que brincar, saibam escrever o nome todo, aprender 3 línguas, e que saibam contar. Claro que as crianças o farão com toda a facilidade, porque elas são esponjas absorventes e como sedentas que estão irão absorver tudo aquilo que lhes é incutido.
Cada vez mais trabalhamos as crianças para a competitividade, para o mais e mais e mais, mas será que as compensamos para saberem gerir as emoções, para saberem gerir as frustrações, para saberem escutar o seu corpo, a sua mente, os seus desejos?
Se conseguem isso, então parabéns. É de facto um grande feito, porque habitualmente desejamos que sejam os melhores, que estejam no quadro de honra. O problema é quando nenhuma destas coisas acontece, e os pais ficam desiludidos, tristes, ou por vezes com raiva e sem ter explicações para dar aos amigos, ou sem poder dizer aos colegas de trabalho que o seu filho é o maior. Mas também nesse momento, estamos por outro lado a incapacitar cada vez essas crianças, que não vêm nada de bom em si, porque acham que a única coisa boa que tem é ter boas notas,… e tudo o resto?
Falhar é humano e, de facto, nem sempre estaremos no quadro de honra. E qual o problema disso?
Nenhum, desde que tenhamos a capacidade de ensinar às nossas crianças a gerir e lidar com os sentimentos, frustações, e a recuperar de tudo isso e retomar o caminho. Mas na verdade são poucas as vezes que o fazemos, na maioria das vezes ensinamos a ser competitivos, a querer mais e mais e, quando isso não acontece, eles por vezes não vêem saída, apenas tristeza, desespero. Porque afinal a única coisa que deixaria os seus pais felizes não foi concretizada, e afinal eles fazem tudo isso para conquistar o amor dos seus pais.
É importante criar crianças saudáveis, desencolver a sua criatividadem, a sua inteligência emocional, suficientemente capazes para gerir a vida e os seus desígnios, para saberem caminhar. Mas também levantarem-se quando caem. É importante que se possa permitir viver cada faixa etária com aquilo que se pressupõe seja a capacidade própria da idade, porque é velha a expressão – mas de tão velha tão actual – “Existe idade para tudo”. E é verdade, cada idade tem os seus encantos. Aos 2 anos estás aprender a dar voz aos teus pensamentos, aos 3 a correr sem fim descobrindo do que és capaz, aos 4 o teu racicionio é cada vez mais astuto e a tua criatividade e imaginação é sem limites, aos 5 descobres que estás a crescer e por aí fora. Até que um dia percebes que nada disso te foi permitido porque, se correres podes cair, então não o faças; porque ser criativo é sinónimo de tontice, por isso porta-te bem; e porque hoje és um Adulto e não te lembras de ser criança e vives triste e encerrado em ti mesmo a viver uma vida de máscaras e do que parece bem, mas não és Feliz e nem Tu Próprio. Às vezes permites-te sê-lo quando fechas a porta de casa e ninguém mais está lá, a não ser TU. Mas mesmo assim só o permites de vez em quando, pois parece mal seres Tu (o que vão os outros pensar?).
É importante criar crianças saudáveis, desencolver a sua criatividadem, a sua inteligência emocional, suficientemente capazes para gerir a vida e os seus desígnios, para saberem caminhar. Mas também levantarem-se quando caem.
O que interessa o que os outros pensam ou não? Para quê viver uma vida de mentira, para quê viver a vida dos outros e não a tua.
E afinal somos diferentes, ou apenas iguais com conceitos iguais ao que desejamos para os nossos filhos.
No fundo, a diferença não reside no Amor que se tem pelos mesmos, ou seja os filhos, mas naquilo que se deseja para eles e na visão que se tem da vida. E isso não é ser diferente é apenas ter noções diferentes e desejos diferentes daquilo que é o melhor e o pior para cada um de Nós.
É importante que, como pais, educadores, tutores, percebamos que é importante seguir o fluxo da vida, deixar crescer, deixar explorar, desenvolver, acompanhar, sustentar, ajudar a ser criança no momento certo, ajudar a crescer no momento exacto. Não existem regras nem fórmulas mágicas, mas existe algo que está ao alcance de cada um. O respeito pela Vida, pelo Ser e – pela sua existência – permitir que crianças sejam apenas crianças.
Porque, como crianças, é natural ser curioso do mundo. Afinal de contas, todos o (re)descobrimos desde o primeiro dia que respiramos. E, por vezes, surge também a curiosidade em aprender a desenhar, a contar, a ler, a escrever. E vemos e entusiasmamo-nos a identificá-los com o Mundo dos Adultos. Toda a criança tem tempo de aprender, tem tempo de crescer e é preciso não apressar. O que importa é deixá-los ser crianças. Aprender como crianças, de forma descontraída e sem expectativas. Porque é isso que elas fazem. E, mais tarde, aquilo que andaram a descobrir aparece de forma estruturada – no tempo certo – na sala de aula.
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