Quando chega esta época do ano, há que fazer um balanço do ano e da vida como um todo, uma preparação para o próximo ano e para os próximos passos. Penso que seja um ritual interno de cada um, ou se calhar de alguns, mas seja como for é algo que faço sempre e estimulo as pessoas a fazerem-no a fim de identificar onde melhorar, o que deixar ir, para onde caminhar…
E neste contexto, aproveitando que temos um feriado prolongado este ano, começamos este balanço aqui em casa e de uma forma bem prática, realista e de acordo com as nossas capacidades e necessidades atuais, porque a cada momento tudo pode mudar e temos que aceitar isto. Então, assim, desta vez resolvi assumir um verbo que é meu conhecido já há alguns anos: simplificar!
Não sei como é em vossa casa, mas aqui a preparação para o natal que envolve montar árvore, enfeites, luzes, prendas e outras milhentas coisinhas que tomam um tempo considerável meu e de todos, porque agora é arrumar e dentro de uns dias desmontar tudo… isto com uma parte da família a gostar e a outra a estar de corpo presente mas fazendo pouco…o processo de aceitação e paciência começa aí. Por isto, num ano onde tivemos que aprender a ceder tempo, espaço, aprender a falar e calar, aprender a estar todos juntos mesmo quando se queria estar mais isolado, o verbo a se viver foi o simplificar.
Na quarentena obrigatória tivemos que reorganizar os espaços físicos, tivemos que reorganizar as refeições, tivemos que reorganizar nossas mentes e emoções, tivemos que aprender que o caminho mais curto é o reto, que a clareza precisava ser maior para que não houvessem desentendimentos desnecessário… tivemos que olhar para os nossos limites e limitações, enfim foi duro mas foi bom.
E com isto, simplifiquei a vida de tal ordem, que quando chegou o dia de montar a árvore de natal deixei de ter uma enorme, com muitas luzes e enfeites para ter uma árvore ecológica, simples e fácil, onde levamos 30 minutos, se muito, a decorar e o restante do tempo foi mesmo a gozar a companhia uns dos outros numa mesa com comidinhas boas, com risadas e conversas. De repente a vida passa, e o que fica são as memórias, são estas risadas… no final ganhamos qualidade de vida mais do que qualquer coisa.
Quando falamos de simplificar não podemos perder o bom senso e a direção, eu adoro natal e decoração de natal, de ver uma árvore com luzes e recordar as muitas árvores que vi e decorei ao longo do caminho. Não deixei de ter este prazer, só que o tornei mais fácil, com menos exigência e mais prazer. Não se pode falar em simplificar e cortar tudo a eito, pois deixa de ser verdadeiro, deixa de ser crescer e passar a ser punição, passa a ser culpa e onde isto nos levará?
Simplificar é deixar ir de forma consciente objetos, pessoas, situações que já não precisamos ou não queremos daquela maneira. É olhar para quem somos e reconhecer o que de fato precisamos e o quanto precisamos. Há coisas básicas na vida que são necessárias e há coisas que nem são básicas mas ainda assim necessárias, só que precisamos saber distinguir entre elas para não nos forçar a viver um estado de tem que ser, porque é o correto ou o adequado.
Na vida o certo e o errado, o adequado e o inadequado vão variar de vivencias, de personalidades, de contextos… a capacidade de adaptação do ser humano é gigante e nem por isto fácil. Então antes de se adaptar a qualquer coisa, olhe para dentro de si e se pergunte, posso viver isto por quanto tempo, até onde consigo aceitar isto sem me perder ou mutilar. Perguntas diretas, respostas simples, não elabora não que isto é a sua mente criando as desculpas perfeitas para sim e para não. Simplifica a sua reposta para que ela seja real, para que seja verdadeira e sustentável ao longo do tempo.
Há coisas, pessoas e situações que facilmente deixo ir, mas há muito que não, que preciso de tempo para me adaptar, para compreender, para acalmar internamente. Quer um exemplo bem básico disto? Adoro pequeno almoço, adoro tomar café com leite, pão com manteiga e geleias, mas sempre que vou a uma consulta a primeira coisa que querem que mude é isto, por todas as razões mais uma, e eu as sei bem, afinal tenho formação bem profunda disto. E então você deve estar a se perguntar qual a razão de eu não mudar isto, não é? A minha resposta é simples, tenho memórias afetivas a cerca do pequeno almoço que não tem preço, adoro sentar com o marido e as filhas pela manhã e começar o nosso dia assim entre comidas e conversas, adoro tomar esta refeição com as amigas num café ou em casa de uma de nós, adoro este convívio é o meu prazer. Então posso fazer muitas adaptações mas esta não, este é o meu limite e tudo bem. Nas demais refeições faço tudo direitinho e com isto ganho qualidade de vida e saúde. Não precisamos abrir mão de tudo, mas temos que reconhecer o que importa e o nosso limite para que tudo o mais funcione.
Neste mês onde a ordem é dar, doe seu tempo, onde a ordem é comprar, faça compras consciente com pequenos produtores e artesãos, onde a ordem é sossegar, recolha-se dentro de si mesmo e cuida de estar bem. Nada nesta vida é definitivo exceto a morte, então vive hoje, aproveita hoje, torna sua vida mais simples não porque é moda, mas porque é bom para você e do seu jeito.
Quando a vida lhe dá tempo, pense, quando lhe dá movimento, faça… mas sempre dentro das suas capacidades e possibilidades. Aceitar a humanidade de cada um e a nossa própria, é uma boa forma de simplificar o mito da super mulher e do super homem, e estarmos mais pacificados com a vida e com o caminho.
Um Santo natal para todos e que 2021 traga toda luz que precisamos para sermos mais gente, e gente do bem!
Jaqueline Reyes
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