Para hoje escolhi escrever sobre um tema, muito especial – Desemprego. E não um desemprego qualquer, não senhor! Vou partilhar convosco o meu próprio desemprego.
A palavra tem uma conotação negativa, transporta consigo monstros de muitas cabeças e muitas lágrimas até.
Cresci rodeada de coisas para a vida. Temos uma casa para a vida, casamos para a vida, compramos mobília sólida para a vida e claro, arranjamos um emprego para a vida toda!
Por isso não vos escondo que, quando aos 49 anos, recebo um convite, naturalmente, pouco simpático para fazer parte de um despedimento coletivo, senti um choque brutal que abriu enormes brechas na minha paz interior e autoestima.
Eram quase 20 anos de crescimento mútuo, eu e a empresa, que ficavam para trás, assim num abrir e fechar de olhos.
Claro que inicialmente veio a fase da negação: Porquê EU?
Depois a pergunta: E agora, que faço?
Depois uma frase bombástica da minha Mãe: Não podes ficar parada, no sofá, tens de te mexer!
Só queria puxar-me para fora daquele drama. Mas estava demasiado ocupada a carpir a minha sorte, a cozer em lume brando, uma raiva que crescia a cada batida do relógio.
Sim, passei por todas estas fases, mas não é sobre os dramas do desemprego que vos quero escrever. Sobre esses, já muito se escreveu!
Quero antes partilhar com todos ‘The day after’.
Naquele tempo, não sabia, não podia saber o que me esperava e posso acrescentar, que é com enorme prazer e claro, orgulho redobrado, que vos quero falar desta fase fabulosa que foi a procura de um novo trabalho.
Sequei rapidamente as lágrimas. Deitei fora o fato de vítima e vesti o fato-macaco. Não queria, não podia falhar. O facto de viver sozinha com o meu filho, foi determinante para este virar de página!
Informei-me sobre todos os direitos e deveres que me esperavam. Por diversos dias, bem de madrugada lá estava eu, nas filas da Segurança Social, da ACT (Autoridade para as Condições de Trabalho) e do IEFP (Instituto de Emprego e Formação Profissional).
Negociei com todas as minhas forças, uma saída digna e minimamente coerente com a minha dedicação de tantos anos. Consegui trazer comigo o computador e o telemóvel que me estavam atribuídos, a custo zero e comprei por bom preço, a viatura a que tivera direito por ser Responsável de departamento.
Na condição oficial de desempregada e com toda a documentação, corri a inscrever-me no Centro de Emprego.
Por esta altura, e quase que como por milagre, a minha cabeça começou a processar o futuro e as mágoas e os rancores começavam a esbater-se. A intensidade com que pensava na empresa que me tinha despedido diminuía gradualmente sem esforço aparente.
Perceber que a vida nos traz o que precisamos e não o que desejamos, foi vitamina que me fortaleceu!
Com toda a documentação já entregue para poder receber o subsídio de desemprego que me era devido, parti para uma nova etapa: transformar um dos quartos da casa, numa espécie de escritório, com novas e claras cores. Dei nova vida a móveis antigos e criei um cantinho bem acolhedor, onde coloquei o meu computador, junto à janela. Iria ser ali o meu local de trabalho dos próximos tempos!
Começava assim, uma época de enorme azáfama.
A internet foi um ótima ajuda, pois nela busquei muitos ensinamentos sobre muito do que é necessário fazermos, para voltar ao mercado de trabalho.
É desta altura, uma das descobertas mais geniais da minha vida: A importância de uma agenda pessoal!
Até ali, só usava agenda no escritório, ou seja, profissionalmente. Comecei a organizar os meus dias, por forma a ter um horário para todas as minhas novas atividades.
Tinha hora para me levantar, para começar no meu ‘novo escritório’. Frequentei algumas sessões de Outplacement’, uma enorme ajuda para quem estava arredada destas lides há muitos anos. E assim o meu currículo foi ganhando forma, bem como a página do Linkedin.
Foi um período de enorme aprendizagem e a minha vontade de vencer, permitiu-me assimilar tantos novos conhecimentos em pouco tempo.
Aprendi a importância da postura e atitude numa entrevista de emprego. Descobri como é que a linguagem gestual pode ser tão, ou mais importante que a linguagem verbal. Aos poucos, fui recuperando a autoconfiança, enquanto geria as finanças cá de casa, com uma pinça de grande precisão. Tive de aprender a viver com um rendimento bastante inferior é certo, mas com a firme certeza, de que nada faltaria ao meu filho.
Por esta altura descobri um mundo novo: wokshops, conferencias, formações, palestras, debates que estavam ali disponíveis para mim a custo zero!
É verdade, percebi que através das Juntas de Freguesia, por exemplo, podia ter acesso a inúmeros programas, que de forma completamente gratuita, nos podiam ajudar nesta fase de transição.
Até um pequeno curso de inglês e outro de italiano e consegui tirar, sem qualquer encargo para mim.
Comprava o Expresso todas as semanas e avidamente lá procurava todas as iniciativas com conteúdos que me poderiam interessar e preferencialmente que fossem gratuitos. Não imaginam o mundo que se abriu. Foi incrível! Em universidades, hotéis e outos espaços maravilhosos, assisti a palestras e debates de grandes nomes nacionais e internacionais.
A minha agenda estava efetivamente preenchida com todas as atividades que fui acrescentando aos meus dias, numa procura de conhecimento e novas valências.
Inscrevi-me em diversos portais de ‘Ofertas de emprego’ e diariamente fazia as minhas pesquisas, selecionando os que mais se adequavam ao meu perfil (Contabilista/Responsável Financeira)
Recorri à OCC (Ordem dos Contabilistas Certificados), para diversos esclarecimentos e formações profissionais.
Analisei a possibilidade de vir a ter um negócio próprio. Para isso, fui a diversas reuniões no IEFP, onde sempre fui calorosamente recebida, devidamente acompanhada e esclarecida. Só tenho a agradecer a forma como fui respeitosamente tratada por todos os funcionários.
Foi também através do IEFP que consegui algumas formações com conteúdos que vieram em muito, enriquecer os meus conhecimentos.
A APOTEC (Associação Portuguesa de Técnicos de Contabilidade), disponibiliza formações com 50% de desconto, para quem está desempregado e claro, que aproveitei o melhor possível, esta vantagem.
Foi um verão sem férias, é certo, de trabalho intenso, mas de muitas descobertas. Guardo grandes amizades dessa altura, pessoas que, como eu, procuravam novos desafios profissionais.
Recordo o conforto que sentia, saber que não estava só nesta busca e que a amálgama de pessoas sem trabalho, eram muito mais do que meras estatísticas e armas de arremesso político, era afinal rostos com vida. Pessoas com quem eu gostava de partilhar as minhas conquistas, mas também os meus medos.
As entrevista foram surgindo e pelo meio até trabalhei numa imobiliária e fiz voluntariado, algo que nunca me tinha passado pela ideia e também estas, foram experiências felizes.
Nunca devemos desistir dos nossos sonhos ou projetos, principalmente nas fases em que sentimos os alicerces a abanarem fortemente. Mais um grande ensinamento!
E assim foi. Sinto um enorme orgulho por ter conseguido transformar uma fase que tinha tudo para ser cinzenta – e até negra – num período de grande aprendizagem e enriquecimento pessoal.
Passei a valorizar ainda mais, a família que sempre esteve ao meu lado.
Estava o mês de Agosto no seu auge, tinham passado 6 meses, desde que me tornara desempregada e tinha um novo desafio pela frente. Escolher entre duas fantásticas ofertas de trabalho!
Paula Castanheira (Texto)
Ângela Rego (Foto)
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