Era uma vez um cogumelo muito vaidoso. Era vermelho, com pintinhas brancas e um pé muito alto. Nasceu no meio do restolho, constituído de folhas caídas no chão, restos de galhos e outras plantas mais pequenas.
Orgulhava-se o cogumelo de ser tão alto. Dali via tudo. Via os pássaros, as plantas que cresciam em volta, e uns outros cogumelos que tinham nascido, também ali perto. Era um monte de cogumelos amarelados e feios. Eram muitos. Mas não cresceram tanto.
Um dia, o cogumelo grande lembrou-se de falar com o monte dos cogumelos pequenos e perguntou:
– Como é que vocês aí foram parar? São pequenos e feios. Eu sou grande, tenho um chapéu vermelho, lindo com pintinhas. Daqui vejo tudo.
Os cogumelos pequenos riram-se baixinho para que o grande não os ouvisse.
– Não sabemos nada disso. Só sabemos que aqui nascem todos os anos um monte de cogumelos iguais a nós. No meio das folhas e debaixo da terra há umas sementinhas muito pequeninas que, com o calor do sol e a humidade da terra, nos faz nascer.
Primeiro somos uma pequena bolinha. Vamos ganhando raízes e com o calor vamos desenvolvendo todos estes cogumelos que aqui vês.
O cogumelo grande deu uma gargalhada:
– Insignificantes e pequenos. Valem muito pouco. Nem dão nas vistas. Eu sou lindo e grande.
Andava por ali um gafanhoto a brincar com uma lagarta.
O gafanhoto saltava e a lagarta enrolava-se e, com o corpo comprido, rastejava por entre as folhas castanhas e verdes que se iam acumulando com o vento.
Nem o gafanhoto nem a lagarta viram os cogumelos, tanta era a brincadeira.
A rir e a brincar, foram embora. Passou uma joaninha com pintas pretas nas costas. Parou, olhou, viu os cogumelos, olhou mais uma vez, mas também foi embora. Não estava interessada em cogumelos. Foi visitar umas plantas amigas que cresciam no jardim.
O cogumelo grande começou a ficar triste. Era lindo, grande, alto com pintas brancas no chapéu e ninguém lhe ligava.
Um dia apareceu por lá uma menina com a mãe. Viram os cogumelos:
– Mãe. Vamos apanhar para o nosso jantar?
A mãe da menina abeirou-se e disse-lhe que só apanhasse os pequenos. O grande e lindo não servia para nada. Era venenoso.
– Mas eu sou muito mais bonito! – Gritou o cogumelo vermelho e grande, já muito irritado.
– Não. Esse fica aí. É muito lindo, sim, mas se o comermos ficamos doentes.
E foram embora com os cogumelos feiosos dentro do cesto. Aqueles não são tão lindos, mas não fazem mal.
E assim, ali ficou triste, até nascerem mais cogumelos pequenos que a menina e a mãe vinham cortar para se deliciarem. Esses, sim, pequenos e feios, mas bons e apetitosos, cozinhados na panela ao lume do fogão de ferro na cozinha.
Dos grandes e vermelhos que ninguém quis, nasceram mais uns quantos também assim muito vaidosos. Orgulhavam-se de ver tudo do alto do seu grande chapéu, mas sem utilidade.
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