Universo Feminino…

Universo Feminino…

…quando era pequena e os meus pais passavam a vida a ver com quem eu saía ou aonde ia, faziam questão de tomar conta e de eu perceber os “perigos” por detrás de algumas atitudes simples como um piropo de um homem ou de um jovem e as suas diferenças. Na altura como toda adolescente achava um exagero, e especialmente porque eles me educavam para ser o que eu quisesse, me apoiaram para sair e estudar fora da minha cidade, me apoiaram para mudar de país assim que me formei ou seja, na minha casa todos eram feministas sem o saberem. E se pensar bem, o matriarcado imperava na família toda e isto quer dizer que nunca houve mulher “frágil” ou que não pudesse fazer isto ou aquilo. Contudo, as regras eram claras e mais limitadas para o lado das meninas do que dos meninos, o motivo para tal?!

Bem, o motivo é que a educação e os julgamentos sempre foram e são diferentes, para meu grande pesar já que temos duas filhas, e há ainda muitos destes conceitos limitadores a persistirem em homem e mulheres jovens o que surpreende-me imenso.

Muitas meninas estão a ser tachadas disto ou daquilo porque fazem algo que os meninos fazem na boa sem terem que justificar, mas a cobrança é só para um lado e para o lado do feminino. Se saem e resolvem beijar alguém sem compromisso mas pelo simples desfrute é “feio”, só que se os meninos o fazem também então porque só com as meninas é que é feio?! Porque só com as meninas é mau terem sexo pelo prazer do sexo?! Porque as meninas que bebem são facilmente “atacadas” sexualmente e os meninos não? Muitas serão as perguntas e a cada uma que escrevo surgem muito mais, só que a questão em verdade é uma só, porque uns sim e outros não?!

Tenho sobrinhos e sobrinhas, tenho duas filhas, tenho dois irmão e duas irmãs… portanto estou habituada aos dois universos, mas por ter filhas é claro que me toca mais o universo feminino. E contando com a faixa etária onde se encontra a mais velha, que inclui o sair de noite com os amigos, que é uma vivência própria da idade, não poderia dizer que não nos preocupou ou preocupa. São mil conselhos, são mil e uma conversas… um stress tão grande para nós quanto para ela que só quer ir ali com as amigas dançar, paquerar e viver. Era diferente no meu tempo? Se calhar não, mas havia um respeito maior por parte dos meninos em relação as meninas que hoje vejo pouco. Então o que mudou? Onde estamos errando?

Não sei responder a isto infelizmente. O que sei é que como pais fomos pensando em maneiras de ajudar as nossas filhas a serem quem são, a irem o mais longe que puderem em tudo o que querem fazer. Porque o meu pai disse vá a sua vida e se faça a ela, como não fazer o mesmo com as nossas? Minha mãe e minha sogra são mulheres incríveis, cada uma a sua maneira “quebrou” regras para seguir os seus ideias de vida e por isto são um modelo de coragem e persistência. E com isto, como podemos dizer as nossas filhas não saiam a noite, não vão dançar e criar memórias? Como dizer as nossas filhas não sonhem grande e façam o melhor que puderem na vida?

Como mãe gostava de dizer para as nossas que nas suas vidas tudo vai correr bem, e o digo, mas também tenho que dizer que o mundo ainda é muito machista, que elas não vão lutar só para serem as melhores alunas ou melhores profissionais. Elas vão ter que lutar por melhores oportunidades sendo mulheres e isto é uma luta de gigantes. Por terem melhores notas que os meninos já ouvem “piadinhas” a cerca do tema, por serem mais lideres do que seguidoras já ouvem piadinhas, como se isto fosse ruim e a pergunta que me surge é: é ruim para quem mesmo?!

Quantas de nós já não passou por isto, ser classificada porque somos melhores ou mais pró ativas, ou criativas, ou o que quer que seja?

Honestamente, Maio mês da mãe, de Maria, da mulher e eu querendo só que as nossas filhas possam sair sem que eu me preocupe que alguém as drogue ou abuse sexual e emocionalmente delas. Como pais de meninas, ainda temos as mesmas preocupações dos nossos avós, e isto não deveria já ter mudado?

Pais somos responsáveis pela educação dos nossos filhos, que tal começarmos hoje a educar pela igualdade, pelo respeito e pela responsabilização? Vamos deixar de sermos machistas seguindo condicionamentos pré-históricos, de forma a melhorar a qualidade de vida das meninas todas, de forma que possamos autorizar as nossas meninas saírem de casa sem que fiquemos com medo de algo de mal aconteça a elas. Vamos educar os nossos meninos para serem companheiros e gente, não “players” ou “machistas”. Vamos fortalecer as nossas meninas dando a elas meios para serem ainda melhores, para voarem ainda mais alto que um dia sonhamos. E quem sabe os nossos netos possam um dia viverem a igualdade como algo normal e não um sonho ou ideal.

Todos os pais deviam ser feministas, porque ser feminista é querer um mundo de igualdade respeitando as diferenças de cada um. Somos iguais e muito diferentes graças a Deus!

Para este mês onde celebramos o feminino só poderia desejar isto, que o feminino de cada um seja honrado, que cada mãe e mulher possa ser respeitada simplesmente por ser quem é. E que os homens possam também estarem em paz e harmonia com o próprio feminino. Pois curar a mulher é curar o mundo. Curar o mundo é dar a mulher a oportunidade de fazer ainda mais e isto sim é uma grande oportunidade para todos independente do género.

Um abraço,

 

Jaqueline Reyes

Spread the love